segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Turismo

Numa ilha, é evidente que qualquer turista procura água. Límpida. Transparente. Se possível com peixes de fascinantes cores, formas e tamanhos. Procura também sossego. Um pouco de sol, paisagens de sonho e algumas compras, normalmente de coisas que não servem para nada ou para fazer inveja ao vizinho menos afortunado ou para oferecer à família de que não nos lembrámos na azáfama das precipitadas visitas mais ou menos programadas.
Nós temos tudo isso em quantidades incríveis e um clima ameno e sempre primaveril que deixa as Caraíbas e quejandas a perder de vista, tendo em conta que são insuportáveis e mal sãs estufas de águas mornas e fedorentas. Mas, cuidado, as nossas águas mercê da nossa tendência para a porcaria, estão a ficar sujas e tão baças que mais parecem aquelas que ladeiam as grandes zonas industriais desse mundo de Deus. Entre nós, são as ribeiras para onde se deita o lixo como se vivêssemos ainda na escassez do século XIX onde o pouco que se punha fora até de adubo servia; são as lixeiras públicas a céu aberto colocadas em pontos demasiado perto da costa que, em vindo um ventinho mais forte, ali vai porcaria a dar à costa na praia mais próxima, quer seja uma estonteante e bizarra Ferraria quer uma Areia mosteirense por mais azul que seja a bandeira lá posta. Já não basta a falta de fiscalização aos barcos de todas as nações que resolvem fazer das nossas águas territoriais sumidouro para as suas imundícies, como também a inexistência de largas zonas de protecção que impeçam os barcos movidos a motor de se aproximarem dos paraísos do descanso e laser turístico que são por isso as minas de ouro que têm de estar ao serviço de todos os que aqui querem melhorar de vida. Os nossos mares estão a ficar sem peixes e, quer-me parecer que não só devido às pescas intensivas e ilegais. Depois vêm os carros e as motos sem escapes ou com eles muito abertos (onde está a fiscalização?) e com os altifalantes tão altos que parecem aviões de combate no Iraque, na hora de ponta dos bombardeamentos. Sem águas transparentes, sem peixes, com lixo e com barulhos insuportáveis o nosso turismo está condenado senão houver um pulso de ferro que corte a direito.
3 de Setembro de 2008

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