quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Onde?

Um dia destes a Câmara realizou, na Urbanização do Paim, ao Papa-terra, uma interessante cerimónia de descerramento de placas toponímicas de grandiosas praças com nomes da Autonomia Constitucional, da primeira Assembleia e do primeiro Governo autonómicos. Tudo com elegantes colunas com os nomes dos pioneiros dessas instituições. A cerimónia terminou com pompa e circunstância com tribuna, passadeira vermelha e um importante discurso do Pai da Autonomia constitucional, João Bosco da Mota Amaral. Presentes o antigo deputado Carlos Teixeira, os primeiros Secretários das Obras Públicas, João Bernardo Rodrigues e do Trabalho, António Lagarto. Presentes também o antigo Deputado europeu Vasco Garcia e o outrora Secretário do Trabalho Octaviano Mota. Ausentes todos os outros. Ausente a televisão. Ausente a multidão que antigamente acompanhava, subserviente, Mota Amaral por todo o lado. Ausentes tantos que o seguiam pelas estradas políticas que desbravou, tirando-os do anonimato e da penúria. Do governo socialista actual nem vivalma! Dos outros partidos apenas se viu José Ventura do PDA. Como é curta a memória dos homens! E escassa a elegância dos adversários! E inconcebível o desprezo da comunicação social pública e paga por todos que outrora rastejou a seus pés até à náusea. É difícil engolir na nossa terra estas posturas invertebradas sem um grito de revolta. Onde pára a velha cepa açoriana? Há momentos na vida dos Povos que não é a luta política que prevalece mas a unidade que faz a força e a história.

Carlos Melo Bento
2008-09-15

Caturrices

Que assembleia legislativa querem os açorianos? Para responder racionalmente à questão, há que pensar na que tivemos até agora, na Horta. Deputados PS (em maioria absoluta), deputados PSD (em minoria relativa) e um deputado do CDS. Se perguntarmos quais foram os casos em que os nossos representantes condicionaram o governo socialista, aposto que ninguém consegue responder convenientemente. Os que apoiam o governo levantaram-se calados e sem um pio. A oposição laranja (para além da questão humilhante do Estatuto) limitou-se a umas picardias quase infantis, e ponho aí o quase, porque algum forasteiro pode estar a ler-me … O ilustre deputado do CDS manifestou-se duma forma tão frenética que a maioria governamental teve de condescender em alguns pormenores de somenos para ver se se calava. Ainda assim fez-se notar, a ponto de o ter eleito político do ano de 2007. Por antonomásia! E por falta de melhor. Calcule-se. A coisa chegou a um ponto tal que, certamente quem manda, mandou fazer uma lei eleitoral especial, de maneira a poderem entrar mais uns tantos partidos…Se cada povo tem os deputados e o governo que merece, cabe agora ao nosso Povo decidir. Mas o Povo que vota pois não contam para nada os que se abstêm por não saber ou por não querer votar. Por mais sábio que seja o abstencionista, ele é um zero à esquerda, um Chico banana que se sujeita a ser governado por pessoas em quem não acredita e não confia, por birra, por caturrice ou por vingança.
Carlos Melo Bento
2008-09-30

Compensação

Quem fez a actual lei eleitoral proclamou-se magnânimo em relação aos pequenos partidos e criou um círculo chamado de compensação onde gerou 5 lugares de bónus que eram destináveis a esses deserdados da fortuna eleitoral. Tudo levaria a crer que os que não obtivessem mandatos nos círculos de ilha, seriam os únicos a concorrer ao outro. Puro engano. Bem sei que, como povo, somos fracos em matemática mas contas bem feitas, parece que o tal círculo compensatório (compensação de quê?) vai acabar todo na mão dos grandes partidos que praticamente se apropriaram desta democracia, numa espécie de duas Uniões Nacionais que controlam quase tudo.
Os orçamentos eleitorais são um escândalo se tivermos em conta que fora as escandalosas verbas ali não estão contabilizadas nem as horas nem os transportes nem os telefonemas dos “voluntários” e, até custa a crer que se gaste tanto dinheiro na “festa” da Democracia para convencer 100.000 eleitores se tantos forem os que se dispuserem a votar. Penso até que as campanhas eleitorais convencem apenas aquela parcela muita pequena dos indecisos que até à última hora não sabe o que é melhor.
Sempre sonhei com uns Açores em que todos se conhecem e fosse fácil escolher. Que ilusão! Nas Flores, a nossa candidata colou dois cartazes em lugar improvisado que a Câmara nem placards proporcionou. Meia hora depois estavam arrancados. Os quadros de meu irmão estiveram mais tempo na Gulbenkian…
A maioria guia-se e move-se em direcção da luz dos interesses. Só comida os junta. Que tristeza.
Carlos Melo Bento
2008-10-07

Os Trabalhadores

Ao contrário do resto do país, depois de 1974, nos Açores, houve um consenso no sentido de apoiar-se o capital, quando lá fora corria desenfreadamente o ódio aos “ricos”, com ocupação de casas e terras, saneamentos, fugas para o estrangeiro, auto gestão de empresas, expulsão dos patrões e outras tantas loucuras que destruíram a frágil economia lusa quase até à bancarrota. Aqui, calmamente, um modesto empregado, retira da empresa milhares de contos e vai levá-los ao patrão, exilado em França, sem eira nem beira. Outro faz o mesmo e vai ao Brasil levar o seu a seu dono. Era ilegal mas fez-se porque a moral sobrepõe-se às leis desonestas. Tudo com autorização e protecção dos que então dirigiam a FLA que nunca tiveram vergonha de defender a propriedade mesmo à custa de graves riscos. Hoje, o capital está sólido e não precisa de ajuda, ao contrário, precisa de defender-se apenas de si próprio, contra os excessos que sempre comete quando tem o poder. Por isso, parece bastante óbvio que, quem precisa de protecção, são os trabalhadores, principalmente os menos qualificados. A dignidade da pessoa humana, o direito a emprego seguro, a justo salário ( que os rendimentos mínimos não são, pois cheiram a esmola discricionária), a função social da propriedade, são valores que urge promover a primeiras preocupações. Não vá dizer-se, com razão, que os açorianos são um povo de escravos que enriquece uma parte dele, para a outra lhe obedecer até morrer de fome ou emigrar por necessidade.
Carlos Melo Bento
2008-07-27

Volúpias

O lançamento de 6 grossos (quase mil páginas cada) volumes das Genealogias de S. Miguel e Santa Maria, do rigoroso e profundo Rodrigo Rodrigues, além de cerimónia bonita, foi momento importante nestas coisas do pensamento. Falecido há décadas, o autor foi sempre referido, pois sabiam os entendidos que a obra era imensa e irrepetível. Seu neto, o distinto médico Henrique Aguiar Rodrigues, preparou a espectacular edição, num trabalho colossal, a ponto de se poder dizer que nunca veria a luz do dia se não fosse ele. Há um ano, outra obra de igual fôlego, foi lançada na nossa Terra: Genealogias da Ilha Terceira, dos Drs. António Ornelas Mendes e Jorge Forjaz, em 9 volumes de igual tamanho e valia, fruto duma vida inteira de amor ao nosso Povo e de muito trabalho sem remuneração material. Mas, se eles sentiram com isso a mesma volúpia que sinto ao escrever a História dos Açores, não tenho pena deles, pois ficam a ganhar. Uma coisa é certa, estas obras são monumentos gigantescos e um serviço sem preço prestado ao nosso Povo. Se Ernesto do Canto nos legou o Arquivo dos Açores, delícia dos investigadores em todo o mundo, Rodrigo Rodrigues, Aguiar Rodrigues, Ornelas Mendes e Jorge Forjaz legam-nos amplas varandas sobre as nossas famílias, ricos e pobres, comuns e aristocratas, intelectuais e iletrados e, através delas, podemos ver saltando, durante séculos, de ilha em ilha, a gerar, educar e tecer este querido Povo que tanto amamos. Ditosa Terra que tais filhos tem.
Carlos Melo Bento
2008-08-30

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Que futuro?

Sabido o resultado das eleições, cabe pensar no que vai ser agora o nosso futuro, pois as análises dos “porquês” e dos “podia ter sido” só aos analistas interessa. Com maioria absoluta de deputados, o partido socialista irá certamente continuar com a política que lhe deu outra vitória eleitoral, cabendo-lhe, para salvaguardar o prestígio e credibilidade, cumprir o programa eleitoral, tanto quanto possível à letra. César, figura aglutinadora da sua máquina partidária, tornou-se para o partido do poder numa peça chave da governação sem o qual todo o equilíbrio até aqui conseguido, provavelmente não subsistirá.
A oposição mais fragmentada é certamente um trunfo de que os socialistas só agora dispõem, pois a divisão do adversário faz a força do que manda. As apostas do actual governo no turismo e nas comunicações, sobretudo, valem objectivamente um lugar na história do nosso progresso material; o apoio à pobreza com uma reinserção permanente dos mais pobres, como nunca se viu (despoletando por parte das Câmaras emuladas igual iniciativa); o acesso à educação e à cultura iniciada pelas laranjas e agora ainda mais desenvolvidas e apuradas, tem sido positivo. Se a crise financeira descambar em recessão, temos condições políticas para atravessar a tempestade com o máximo de capacidade de sobrevivência. No campo da autonomia, o poder rosa já sabe que, se parar, morre, daí que só pode avançar, pois aparentemente, estão todos de acordo. E, em política, o que parece é.
Carlos Melo Bento
2008-10-21

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Genocidas

Genocídio é o assassinato de todo um povo. Os nazis fizeram-no com os judeus, os turcos com os arménios e por aí fora. Os açorianos, através do seu Parlamento, e por unanimidade, proclamaram-se como Povo e orgulhosamente inscreveram, no seu Estatuto constitucional autonómico, a declaração de que se assumiam como tal, com governo próprio e território determinado. Estávamos todos contentes e felizes a gozar esse momento de glória histórico e inofensivo e, eis senão quando, vieram os genocidas e “limparam-nos” do estatuto e ficaram eles, então, felizes e contentes. Claro que entre os judeus, os arménios e nós, há uma diferença fundamental: nós ainda estamos vivos e a limpeza étnica, como tudo o que se passa em Portugal, não passou do papel. Mas dói. Pela incongruência de se dizerem democratas e agirem como autocratas. De proclamarem a democracia e praticarem a ditadura. Ditadura ideológica que é a mais grave de todas pois nem liberdade de pensar nos querem reconhecer. Ou melhor, deixam-nos pensar, logo que seja como eles querem. Ora, perante esta situação, de duas, uma, ou acatamos por cobardia disciplinária (ou seja, disciplina partidária) ou erguemos a cabeça e dizemos: não! Serve de pouco, dirão os cépticos. Pois é, mas é essa a diferença entre dignidade e o resto. Entre o ser-se verdadeiro e o não se ser. Por isso, é que um voto no PDA, para mim, vale mil dos outros. Utopia? Talvez. Inconsequência? Talvez não. O Povo Açoriano irá decidir. Quer exista quer não.
Carlos Melo Bento
2008-10-14