quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Uma Vergonha!

O edifício do tribunal da Ribeira Grande foi construído de novo há poucos anos. Em 1964, quando me formei, já se falava na sua construção. Só agora essa velha aspiração foi concretizada. Infelizmente, porém, de forma muito atabalhoada para dizer o mínimo. Para já, construíram-no no lugar dos paços quinhentistas do antigo Pedro Rodrigues da Câmara, que governou a ilha durante a menoridade e ausência do sobrinho, fazendo daquele lugar a capital da maior e mais importante capitania insular onde toda a gente tinha de se deslocar para despacho. Sousa d’Oliveira fez ali espectaculares descobertas arqueológicas. Depois, quem ganhou o concurso para a construção foi uma empresa de fora, agora falida que deixou pendurados vários subempreiteiros de cá, levados pela confiança num empreiteiro escolhido pelo Estado. As salas de audiência parecem túmulos egípcios pois não têm uma única janela! Finalmente, o edifício está literalmente a cair aos bocados, mete água e tem as paredes rachadas e a fachada exterior isolada com uma fita do género “crime scene” dos filmes americanos porque os grandes vidros do balcão caem e podem guilhotinar alguém. Que raio de autonomia é esta que nem tem poder para fiscalizar e escolher os empreiteiros que aqui trabalham para o governo e pelos vistos nos enganam? Se o Estado não sabe governar à distância, então porque razão não são os de cá a fazer o que, cá, só nós sabemos fazer? O que é que os outros são mais que nós? Pelos vistos até são menos…
Carlos Melo Bento
2009-10-20

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Surpresas

As autárquicas surpreendem sempre. Desta vez foi Vila Franca. É verdade que nas legislativas de há dias o PS ganhou e o Dr. António Cordeiro dizia a toda a gente que ia ganhar folgado. Mas, no Nordeste, o PS também ganhou nas legislativas e perdeu nas autárquicas. Rui Melo terá defeitos mas o que transpirava era a grande obra realizada pela sua administração na velha capital que de pequena aldeia piscatória ergueu à categoria de autêntica cidade, e sem hostilizar o governo de César com quem conseguiu uma notável coabitação a favor do seu concelho. Certo que Ricardo Rodrigues, agora com prestígio nacional, apoiou o candidato socialista e não deve ter sido indiferente a influência duma família tradicional com raízes, de Ponta Garça à Vila. Acusaram Rui Melo de nepotismo e prepotência. Já não surpreendeu a vitória de Ávila na Povoação, passados anos de ausência do velho leão socialista. Quando perdeu, acusaram-no de arrogante e prepotente. Agora venceu folgadamente. Terão pensado que, mal por mal, Marquês de Pombal? Não sabemos. Ainda! Outra questão é a intervenção governamental na autonomia autárquica. O país nasceu dessa autonomia que vem do tempo dos mouros. Os reis não mandavam nos concelhos. Só lá punham os pés quando convidados. Se outro poder se imiscui nessa área viola a essência da autonomia, alicerce do viver atlântico. Há personalidades que ganham em qualquer partido (veja-se o Corvo e Flores) e isso é salutar porque manda o povo. Desvirtuá-lo é um erro, com Amaral, com César ou seja com quem for.
Carlos Melo Bento
2009-10-13

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Somam-se

Quando a República chegou em 1910, via revolucionária nunca referendada, a nossa reacção foi a de espanto. Os autonomistas que eram quase toda a intelectualidade micaelense e terceirense, tinham formação monárquica, mas a sua importância política esfumou-se. Lisboa aproveitou para tomar decisões contrárias aos nossos interesses, como a inqualificável extinção do Tribunal da Relação dos Açores. Os republicanos aqui eram uma minoria e nada pôde a maioria contra eles, dado que Lisboa os apoiava e a Família Real, desamparada, fugiu. A autonomia esperou até 1925 para se manifestar. Os desfavorecidos nada receberam do novo regime a não ser vãs esperanças de bacalhau a pataco e outras balelas inventadas pelos políticos de ocasião. Também se vivia, dizia o meu querido Pai. Mas a que preço! Vieram os adesivos que gritavam vivas a pensar na barriga e esquecendo os princípios, a moral e a ordem. Deu no que deu. Os regimes valem o que valem e, normalmente são desfeitos de dentro quando os que os fazem não conseguem defender com diligência e inteligência o interesse geral. Branqueamentos há sempre mas a verdade acaba por flutuar. Nestas eleições daremos uma lição de correcção. Berta Cabral será reeleita, penso, porque serviu com imparável dinamismo. César será respeitado como o cabeça da autonomia que soube defender e aumentar. E esses dois baluartes do nosso viver actual são fonte de progresso, credores de respeito e alicerces de poder dum Povo que quer ser respeitado. Somam-se, não se anulam.
Carlos Melo Bento
2009-10-06