O momento é incerto e perigoso. O capitalismo que tanta riqueza gerara no mundo ocidental, propagando-se à Ásia como fogo em pólvora, atravessa uma crise que arrasta o sistema que parecia sólido como rocha. O fantasma de Marx e a sua profecia apocalíptica surgem do sótão das coisas esquecidas, fazendo tremer os que julgavam o materialismo dialéctico morto e enterrado. Uma grande abastança abatera-se sobre o mundo capitalista, com casas luxuosas, carros de milhares, cruzeiros de fantasia, saúde gratuita, ensino ao desbarato, comércio a rodos, tanto que, no delírio do consumo, as pessoas nem pensam nas dívidas que durante anos as amarram aos bancos e às suas hipotecas, às empresas de crédito contra incertas declarações de IRS, a troco de computadores, telemóveis, jogos electrónicos, vídeos e aparelhagens de preços e efeitos incríveis, internetes de mirabolantes e imediatas comunicações para qualquer ponto do planeta, GPS de orientação inaudita que até dispensam pilotos ou guias, ginásios que se esfalfam a desfazer as gorduras duma alimentação excessiva e barata que a todos deforma, e tudo o que nem a mais delirante imaginação podia prever. Inesperadamente, a banca, nervo e mola real do sistema, dá um grito de dor e parece submergir no meio duma overdose de lucros e progresso transformados em falências e burlas impensáveis. No aparente remanso do nosso cantinho, porém, vão chegar as ondas do tsunami que abalará a vivência idílica em que despreocupadamente temos vivido. Não duvidem.
Carlos Melo Bento
2008-11-04
Carlos Melo Bento
2008-11-04
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