terça-feira, 11 de novembro de 2008

Relíquia

Os Açores são a relíquia dum vasto império que um pequeno povo temerário e heróico fundou nos quatro cantos do mundo, criando nações e estados incrivelmente maiores que ele próprio, onde milhões e milhões de pessoas falam a sua língua, crêem na mesma fé, usam as mesmas leis, amam os mesmos desportistas e se comportam como co-fundadores dessa tarefa gigantesca que nos coloca a todos, sem motivo de vergonha, ao lado dos maiores e mais poderosos. Relíquias, escrevi eu, não jardim zoológico em que uns tantos teimam em ver ridículos laboratórios onde se experimentam teses ou se põe e dispõe como em casa alheia, ao sabor dos caprichos de políticos sem dimensão nem génio. O destino e o viver dos açorianos é, antes de mais, assunto que só a eles interessa e só a eles compete decidir. Não aceitamos tutelas. Podemos ser vítimas de atropelos cobardes mas não vergamos a nossa vontade a ditadores de pacotilha e a Napoleões de cartão. Não embarcamos em cruzeiros de jurisprudências servis. Somos gente. Somos cidadãos de cidadania completa. Somos autónomos não colonos duma qualquer potência novecentista nem pertencemos a roçados mapas cor-de-rosa, cartas de jogar em tabuleiros de duvidosa racionalidade. Quem não se sabe governar não tem legitimidade para querer governar os outros. Quem não manda em sua própria casa não tem boca de falar na casa dos outros. Deixem-nos em paz. Quem quiser fazer melhor que venha viver de vez para cá e, então, será como nós.
Carlos Melo Bento
2008-11-11

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