quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Roteiro do 6 de Junho de 1975 - A Vitória dum Povo



Crónica das cobardes prisões feitas a civis desarmados, alta noite, por militares, fortemente armados, na tentativa vã de pararem o movimento de emancipação açoriano.

Ao comemorarem‑se os 25 anos da grande Manifestação de 6 de Junho de 1975, em Ponta Delgada, sugeriu João Pacheco de Melo que fosse feito um roteiro das casas dos que expiaram essa viragem na nossa História Política, com a ignóbil prisão feita a civis desarmados, pela calada da noite, por aqueles a quem o cumprimento da lei estava confiado...

Noite de angústia, não pela luta que não temeríamos se tivesse sido leal mas pela cobardia de se atacar, com armas de guerra, civis desarmados e indefesos, ao abrigo duma farda até então honrada e respeitada.

Recordemos pois os nomes e as moradas desses açorianos por ordem alfabética:


1.‑ O Dr. Abel da Câmara Carreiro
1916-2006
Era na altura um advogado já sexagenário, doente mas no activo até falecer com 90 anos. A casa onde o prenderam de madrugada situa‑se na Rua Dr. Armando Cortes Rodrigues, n.º 17, da cidade de Ponta Delgada. 0 seu "crime" foi ser jurista e fundador do Movimento de Autodeterminação do Povo Açoriano (M.A.P.A.) e ter participado, no Palácio da Conceição, com o general Altino, nas negociações destinadas a evitar que a Manifestação de 6 de Junho fosse reprimida violentamente ou gerasse ela própria alguma violência.

O Dr. Abel era compadre do Comodoro Ricou que fez parte da comissão de inquérito mas não teve coragem de interrogar o avô dos seus netos quando chegou à vez daquele causídico depor, no Palácio dos Capitães Generais, de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, onde os "presos" foram enfiados na cadeia local, sob insultos de arruaceiros contratados, como vulgares criminosos, guardados por soldados armados até aos dentes.

2.‑ Aguinaldo da Silva Almeida Carneiro
26.VI.1951 ‑ 15.III.1999

Foi preso às 3H‑30M da madrugada, por militares, alguns seus antigos instruendos, na sua casa na Rua Teófilo Braga, n.º 63‑A, em Ponta Delgada, quando sua mulher esperava o 1º filho ( Sara Beatriz). Atendendo ao estado desta, propôs aos que o prenderam que o esperassem na Rua da Vila Nova de Baixo enquanto de carro a foi levar a casa do sogro. Jovem que aparentava uma saúde de ferro, tinha sido militar em Tavira, no Porto e na Bateria de Costa de Ponta Delgada e, como Furriel Miliciano, deu instrução ao antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros e Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama. Participou na Revolta das Caldas. 0 25 de Abril apanhou‑o ainda militar no activo mas passou à disponibilidade em Janeiro de 1975. Fora Jornalista e mantivera um programa radiofónico de cariz emancipalista intitulado "Paralelo 38". Foi activo organizador e manifestante em 6 de Junho de 1975, sendo dos que entrou no Palácio da Conceição, assomando à varanda com o general e o governador civil quando este anunciou que se demetia. A sua morte repentina foi um rude golpe para quantos o conheciam e estimavam.

3.‑ Álvaro Pereira Branco Moreira,

Foi preso de madrugada na casa em que morava à Rua dos Prestes de Baixo n.º 9. A sua prisão foi manifesto engano, provocado por informação errada que os seus deram do nome de seu irmão Rui, esse profundamente envolvído na manifestação e membro activo do braço armado e operacional da FLA, mas que conveio afastar por então ser militar.

4.‑ António Brum de Sousa Dourado,

De família monárquica e anticomunista, foi preso de madrugada na sua casa da Rua Carvalho Araújo n.º 56, em Ponta Delgada. Foi organizador da manifestação em que teve intervenção activa. Fundador do M.A.P.A (Movimento para a Autodeterminação do Povo Açoriano) cujo Manifesto imprimiu e divulgou. Fez parte do grupo do Royal. Seu filho mais velho, pintado de preto, improvisou uma fogueira em frente ao Quartel General, como provocação preparatória do 6 de Junho.

5.‑ Eng.º Antônio Clemente Pereira da Costa Santos,

Cônsul de França. Foi preso de madrugada na sua casa da Rua Dr. Bruno Carreiro, nº. 51, de Ponta Delgada, por soldados armados de metralhadoras, na presença de sua mulher enquanto os filhos crianças dormiam. Os militares seguiram o casal dentro de casa até ao quarto de banho. Um deles aconselhou‑o a trazer uma muda de roupa.

Herdeiro duma grande fortuna, foi odiado por isso pelas forças repressoras. A sua intervenção aparente na manifestação fora aparentemente muito modesta.

Foi dos primeiros a ser libertado depois de 8 dias de cativeiro; durante a sua prisão um navio de guerra francês acostou a Ponta Delgada mas, ao estranhar que o seu Cônsul não estivesse a esperá‑lo e ao saber do ocorrido, fez‑se ao largo, até que Costa Santos foi libertado.

6.‑ António José do Amaral,

Foi preso pelas duas da madrugada na sua casa da Rua do Diário dos Açores n.º 18, por um sargento e um guarda da polícia de segurança pública. Membro do M.A.P.A que divulgava, fora contactado muito antes da Manifestação por Rainer Daehnart negociante de arte e activo apoiante das forças anticomunistas. Por esse facto foi interrogado no quartel general de Ponta Delgada, várias vezes; participou na manifestação. Por esse tempo, estava em Ponta Delgada o Tenente Lima Dias, comandante da Guarda Fiscal, ligado ao CopCon. Como o António José, ele também era coleccionador de armas antigas e porque estava sozinho na ilha com a mulher (que, veio a saber‑se mais tarde, pertencia ao MDP/CDE ), foi convidado, pelo Natal, a jantar em sua casa. Com eles estavam também Luís Franco, José Nuno de Almeida e Sousa e António Manuel Gomes Menezes. Luís Franco durante o repasto fez as brincadeiras do costume ‑ ameaçando com guerra feia os oponentes e divagando sobre a independência dos Açores. Tanto bastou para serem denunciados pelo casal Dias. Depois da prisão de António Amaral sob pretexto de ir prestar declarações, Graça Costa Santos telefonou chorosa à mulher, pois o marido tinha acabado de ser preso, pedindo‑lhes para ir com os filhos ( então de doze e nove anos) para sua casa, o que aconteceu, só então se apercebendo que o marido da amiga também tinha sido preso.

7.‑ Engº. António Manuel Gomes de Menezes,

Foi preso de madrugada na sua casa da Rua Dr. Armando Narciso n.º 6, ao Bairro da Vitória, por um pelotão completo de 12 soldados armados de G3 e muito nervosos, capitaneados por um sargento da marinha, genro de Floriberto Rodrigues e que se tinham feito transportar numa viatura Unimog. Em casa, apenas entrou o sargento; António Manuel e a mulher estavam ainda acordados, pois haviam regressado dum jantar em casa de António Costa Santos. Os filhos ainda crianças, um casal, estavam dormindo. 0 esbirro aconselhou‑o a levar a máquina de barbear, tendo então percebido que estava a ser preso. António Menezes, participou na manifestação, era membro do M.A.P.A e da FLA, e poucos dias antes da manifestação acompanhou o comandante Eduardo Pavão a distribuir panfletos independentistas ( muitos quilos de papel impresso na Papelaria Lusitânia ), sobre a cidade de Ponta Delgada, de bordo do pequeno avião do Aeroclube de S. Miguel.

8.- Engº. Técnico António Nuno Alves da Câmara

Jovem açoriano ex‑militar, foi raptado da sua casa na Abelheira, da Fajã de Baixo, de madrugada, por militares armados até aos dentes constando que os recebeu de arma em punho.

Ele e seu pai foram grandes animadores da Manifestação de 6 de Junho. O seu espírito brincalhão tentou sobreviver incólume durante a prisão mas isolou‑se sempre sozinho na sua cela da prisão.

Foi activo militante da Frente de Libertação dos Açores embora o seu espírito independente nunca o deixasse vergar a hierarquias.

9.‑ Armando Guilherme Goyanes Machado.

Foi preso de madrugada na sua casa da Rua de Santana n.º 52 de Ponta Delgada. Homem de direita, visceralmente anticomunista animou entusiasticamente a manifestação, antes, durante e depois. Nunca vergou nem concedeu aos adversários qualquer milímetro do seu espaço político.

10.‑ Bruno Tavares Carreiro,

Filho dum autonomista histórico, foi preso na casa que também fora do seu pai, na Rua com o seu nome ( em homenagem ao avô homónimo, ilustre médico ).

Abertamente independentista, alto dirigente da Frente de Libertação dos Açores foi encarregado por José de Almeida de melindrosa missão internacional, do que se desempenhou escrupulosamente.

Reagiu sempre negativa e altivamente à sua prisão, zurzindo permanentemente os seus altos responsáveis ( general Altino e Comodoro Ricou ) a quem disse das últimas por escrito e pessoalmente. Foi activo organizador da Manifestação em que teve acção de vulto.

11.‑ Carlos Eduardo da Silva Melo Bento,

Advogado então com 33 anos, foi preso depois da 1 hora da madrugada, por vários soldados comandados por um sargento músico dos Ginetes de quem tinha sido "amigo" e correligionário na ANP de Marcello Caetano. Isso não impediu o esbirro de subir com vários soldados de metralhadora engatilhada até ao seu quarto de cama onde estavam a mulher e 4 filhos de tenra idade, do n.º 45 da Rua da Cruz em Ponta Delgada, cujo telefone foi cortado pelos serviços dos Correios que então superintendiam nos telefones. Colocado numa viatura militar foi levado para bordo dum navio faroleiro, onde já se encontravam outros presos, que foram embarcados para a Ilha Terceira. Liberto 15 dias depois devido a pressões populares sobre o General Altino, dedicou‑se durante muitos anos à luta activa pela independência dos Açores tendo feito parte das cúpulas da FLA, durante algum tempo. Não tinha tido qualquer intervenção na organização da Manifestação, embora a apoiasse e a estimulasse sempre que lhe pediam opinião.

12.‑ Comandante Eduardo José Pereira de Almeida Pavão,
30.XI.1946‑7.VII.1999

Era piloto da SATA e fora colega de armas do General Diogo Neto, membro da Junta de Salvação Nacional, que o visitou na casa da Praceta da Pranchinha n.º 8 onde morava. Só foi preso no dia 10 de junho ( tal qual Mont'Alverne e Tomás Caetano ), pelas 13 horas, por um sargento músico e 4 soldados armados. Apesar de terem tentado entrar todos naquela casa, sua mulher, Maria Inês, só deixou entrar o sargento, ficando os outros no Jeep que o conduziu ao Comando da PSP. Foi membro do directório da FLA, quando José d'Almeida assumiu nos Açores a sua presidência e a quem foi fiel até aos últimos dias da sua curta existência. Promoveu a Manifestação que ajudou a organizar. Quase todas as acções clandestinas da FLA tiveram a sua assinatura e gozou de grande prestígio como defensor da independência dos Açores. Ficou célebre a operação conduzida por via aérea de espalhar panfletos nacionalistas a partir dum avião que pessoalmente pilotou. Grande humanista, sempre velou para que nunca fosse derramado sangue inocente.

13.‑ Fernando Manuel Mont'Alverne de Sequeira

Neto do grande autonomista. Residia então na R Lisboa n.º 53/A onde na véspera de madrugada, tivera uma rusga, sendo sua mulher empurrada brutalmente da cama que foi vasculhada por soldados armados. O próprio filho, então uma criança de tenra idade, foi também revistado. A 10 de junho, pelas 14 horas, quando circulava de carro na Matriz, foi conduzido pela tropa para o comando da PSP onde o prenderam juntamente com o comandante Eduardo Pavão.

14.‑ Eng.º Técnico Gualberto Borges Cabral.

Foi grande dinamizador e organizador da Manifestação, membro activo e responsável pela FLA. Monárquico de direita teve, até que adoeceu gravemente em 1997, um papel insubstituível no Movimento Nacionalista Açoriano ( MNA / FLA ).

Durante a prisão nunca deixou de animar os companheiros de cativeiro e nunca expressou ódio nem contra os que o prenderam. Adversário leal de tudo o que era esquerda, combateu‑a até fisicamente.

Foi preso na sua residência da Rua Coronel Chaves, n.º 23. A sua prisão deixou sua mãe, já viúva, em estado de grande desespero, facto que ele nunca perdoou aos que a promoveram.

15.‑ Gustavo Manuel Soares Palhinha Moura,

Jornalista, director do Açoriano Oriental. A sua prisão deveu‑se exclusivamente ao exercício normal da sua profissão de jornalista que soube medir a Manifestação correctamente.

Extremamente contrariado por ter sido preso, ainda por cima de noite, na sua residência na Estrada Regional da Ribeira Grande, n.º 956, Gustavo Moura pôs sempre o jornalismo acima de todas as outras preocupações.

Não teve qualquer acção na manifestação nem na sua preparação e tentou sempre canalizar os seus efeitos para a sua posição quanto ao futuro dos Açores.

16.‑ João Gago da Câmara.

Entusiástico defensor da independência dos Açores, dinamizou a Manifestação, em que teve papel muito activo. Senhor de grande fortuna pessoal nunca se intimidou com os avanços revolucionários da esquerda que combateu por todos os meios.

Foi preso de madrugada na sua casa da Rua do Castilho, n.º 17.

Depois da prisão esteve nos Estados Unidos onde chegou a trabalhar como simples operário.

Regressando a Ponta Delgada chegou a Presidente da Câmara Municipal, cargo que exerceu quase 10 anos sempre rodeado de muita simpatia popular.

17.‑ João Luis Soares Reis índio.

Grande dinamizador da Manifestação com seu pai e seu irmão, os seus contactos com lavradores e madeireiros foram decisivos para o êxito do movimento. No Palácio da Conceição convidou o Governador a anunciar aos manifestantes que se demitia o que este fez com grande coragem.

Foi preso de madrugada no Pópulo, onde morava e mora na casa de seus pais.

18‑ João Manuel Furtado Rodrigues

Empresário e lavrador, foi grande dinamizador da manifestação que ajudou a organizar.

A ele se ficou a dever o grande entusiasmo e dinamismo do movimento que se prolongou por muitos anos.

Sacrificou-lhe o êxito das suas empresas que entregou no altar da emancipação dos açorianos, o que o forçou a emigrar para o Brasil onde vive.

Foi preso de madrugada na sua casa da Rua do Colégio n.º 73. O seu lugar de reunião e conspiração era no desaparecido café LYS, na Rua Machado dos Santos, que lhe pertencia e cuja clientela ficou famosa por apoiar a FLA..

19.- Engº. Técnico José Joaquim Vaz Monteiro Vasconcelos Franco
1929‑1988


Foi a alma da manifestação com a sua coragem e integridade. De formação conservadora, com grande influência sobre os lavradores que mobilizou e congregou.

Esteve na Origem do M.A.P.A e da FLA.

Foi preso de madrugada na sua casa da Rua dos Mercadores, n.º 90, em Ponta Delgada.

20.‑ José Manuel Duarte Dominques.

Não teve qualquer intervenção aparente na organização da Manifestação. Apanhado pelo 25 de Abril no Ultramar, uma vez chegado a S. Miguel, participou em diversas reuniões clandestinas de cariz independentista, no Cabouco, em casa de Paul de La Bletiére, francês argelino de direita. Foi autor de diversos grafitis independentistas que encheram a ilha de S, Miguel e participou activamente na Manifestação. Representava porém a ala esquerda dos que defenderam a independência dos Açores, foi preso na casa de sua mãe à Rua do Pedro Homem n.º 74 /A.

21.‑ Dr. José Nuno de Almeida e Sousa
1942 – 1980

Jovem e brilhante advogado, já muito doente de cancro na garganta que o haveria de vitimar.

De sóbria formação conservadora e anticomunista, foi jurista do M.A.P.A. o que deve ter sido pretexto ( nunca revelado ) da sua prisão de madrugada, na sua casa à Ladeira de Santa Rita n.º 20, na Fajã de Baixo, feita pela tropa, um oficial e vários soldados armados de metralhadoras, diante da mulher e dos dois filhos então com seis anos, o mais velho e um ano o mais novo. Ainda pediu licença para ir à casa de banho mas essa perigosíssima manobra foi‑lhe proibida pelos valentes militares...

22.‑ Luis Manuel Duarte Domingues,

Como a do seu irmão, a sua prisão, efectuada também na mesma casa da Rua do Pedro Homem, deveu‑se provavelmente ao seu anticomunismo e a ter dirigido a ocupação do Emissor Regional, tendo participado com Luís Franco na redacção do manifesto que fundamentava os objectivos da Manifestação e que teria sido lido por Lourenço de Melo como locutor de serviço daquele Emissor, hoje RDP, embora Jorge do Nascimento Cabral reclame pública e repetidamente, para si essa honra, esclarecendo que, nessa altura " o Luís Cabral, o Eugénio Varela e eu próprio é que aguentamos as espectaculares horas de ocupação do ERA, onde se passaram episódios muito interessantes, como aquele em que o almirante Ricou foi por nós retirado debaixo dos pés dos manifestantes à porta do ERA e seis agentes da polícia marítima rolaram pelas escadas. Foi também um tempo de cobardes e de denunciantes. Que o diga o saudoso Comandante Pavão, por exemplo. Recordo, "à vol d'oiseau", o anúncio da estação que então fiz: "Emissor Regional dos Açores: estimados ouvintes, a partir de agora e até final da nossa programação, vamos transmitir apenas música popular açoriana". Nada de "aqui Portugal" nem de "Emisora Nacional", como era obrigatório na altura. Luís Domingues terá desaconselhado o general Altino a proceder como desastradamente fez.­

23.‑ Luis Maria Duarte Moreira
1920 ‑ 1996

Anticomunista exaltado, foi preso de madrugada na sua casa à Rua dos Manaias, n.º 15, apesar de continental e português de gema, defendeu a independência dos Açores até que teve de emigrar para os Estados Unidos da América onde esteve largos anos. Fazia parte do grupo do Royal.

24.‑ Luis Octávio dos Reis Índio.

Grande dinamizador e organizador da manifestação juntamente com seu pai e irmão. Foi preso na sua casa do Borralho ao Pópulo também de madrugada. Fez parte do grupo que ocupou o Emissor. Foi um dos signatários do citado Manifesto do Emissor. Pertenceu ao grupo do LYS.
25.‑ Luis dos Reis índio
1918‑1994

Grande organizador e dinamizador da manifestação com seus dois filhos aqui referidos, foi dos que entrou no Palácio da Conceição pressionando o Governador a demitir‑se. Participou nas negociações com o General Altino no Quartel General no Castelo de S. Brás. Foi preso na sua casa do Borralho ao Pópulo, por um sargento e soldados armados.

26.‑ Luís Ricardo Vaz Monteiro Vasconcelos Franco.

Com seu irmão foi dos mais activos e empreendedores organizadores e condutores da manifestação. Acérrimo defensor da Independência dos Açores, arriscou tudo pelo seu ideal. Foi co‑autor do Manifesto do Emissor e seu signatário. Esteve no Palácio da Conceição a cuja varanda assumou.

Foi preso na Atalhada onde então morava na Canada das Mercês, pelas quatro horas da madrugada, depois duma força da marinha, fortemente armada lhe cercar a casa e tentar, em vão, matar‑lhe dois barulhentos cães de ... caça!

27.- Manuel Oliveira da Ponte.

Activo organizador da manifestação, foi preso de madrugada na sua casa na Rua Ilha Terceira n.º 8, Bairros Novos, Ponta Delgada. Defensor da independência dos Açores, galvanizou imensos participantes que se incorporaram activamente na Manifestação. Esteve na origem desta. Foi o elemento de ligação entre José de Almeida e Paul de La Bletiére.
28.‑ Manuel da Ponte Tavares Brum.
1924 ‑ 1989

Lavrador, comerciante, madeireiro, foi um activo participante na Manifestação que dinamizou. Foi preso de madrugada na sua casa da Rua Bernardo Manuel da Silveira Estrela n.º. 55, Ribeira Seca da Ribeira Grande, onde morava. Participou do grupo que ocupou o Aeroporto.

29.‑ Eng. Técnico Valdemar de Lima Oliveira.

Preso na sua casa da Estrada Nacional do Pópulo n.º 129, foi organizador activo da Manifestação que dinamizou. Esteve na ocupação do Emissor. Participou nas negociações com o General Altino. Defendeu a independência dos Açores, fazendo parte das cúpulas do M.A.P.A. e da FLA.

30.‑ Tomaz Faria Caetano.

Emigrante de sucesso, regressado definitivamente do Canadá, estabeleceu‑se nas Fumas onde construiu no topo dum monte uma bela casa que chamou Mountain Dream. Foi preso no dia seguinte à madrugada das prisões. Foram buscá‑lo às Fumas onde residia no sopé do referido monte num pequeno chalé. Ficou famoso na cadeia porque, sofrendo de claustrofobia, não deixou que lhe fechassem a porta da cela. E quando o aspirantezeco arvorado em carcereiro quis obrigá‑lo, Tomás Caetano puxou‑o para dentro daquela, fechando a porta que depois disso, ficou aberta. Foi dos primeiros a ser libertado por pressões internacionais porque era cidadão canadiano e obrigou os tropas a levarem‑no para as Fumas onde o tinham ido buscar. Foi na Manifestação todo vestido de branco, inclusive o chapéu e os sapatos.

31.‑ Victor do Carmo Cruz.

Era então o mais alto funcionário de nacionalidade portuguesa do consulado americano e nunca escondeu a sua antipatia pelos comunistas que então tentavam dominar o aparelho de estado, cujas cúpulas ocupavam. Apoiou a Manifestação. A sua prisão na Rua Coronel Chaves n.º 6, de madrugada, por tropa armada foi um acto de cobardia, presenciado por seu pai já então octogenário que lhe aconselhou prudência.

Na cadeia, animou os companheiros com um optimismo servido por um sentido de humor impagável que tanto nos ajudou a enfrentar aquele pesadelo.
Na ilha Terceira foram presos quatro amigos (depois da prisão iníqua passamos a tratar-nos todos por "compadres" por sugestão do dr. Abel Carreiro):
José Manuel Rodrigues dos Santos (o da FIAT),
José Silvério Bispo (comerciante e fotógrafo na Praia da Vitória),
Luís Soares Guiod de Castro (aristocrata e comerciante de Angra do Heroismo) e
Paulo Tadeu Mendes Brum Pacheco, o único que conseguiu convencer os carcereiros a sair num fim de semana para servir de padrinho num casamento! mas este roteiro na ilha Terceira tem outro percurso.

Carlos Melo Bento
6 de junho de 2000

2 comentários:

Caroucha disse...

Obrigada por este testemunho vivo.
Tenho pena de o meu pai (Aguinaldo de Almeida) ter partido sem registar no papel tudo o que sabia desta época.

rapace disse...

eu penso que chegou a altura da ruptura total entre Portugal e Açores. Vamos ressuscitar 75. Nós aqui em Portugal e vocês aí nos Açores podemos reeditar o sonho de todos que queremos e ambiacionamos com mais e melhor Portugal e também melhor vida para os açorianos. Outros que vos paguem a insularidade. Viva a independência dos Açores e viva Portugal e os portugueses que defendem a independência dos Açores.