Foi com surpresa e dor que recebi a notícia da sua inesperada morte. Aquele coração de bom açoriano sempre pronto a servir qual vulcão de amizade em erupção permanente, deixou de bater, quando tanto ainda queria e podia dar à sua Terra e ao seu Povo. Vida atribulada de quem nasceu na Calheta e dali emigrou na adolescência; Fall River viu-o amadurecer, desde sempre ligado a esta ilha por um cordão umbilical de aço e emoção. A ela voltou sempre que pôde e aqui estava como se de cá nunca tivesse saído. Amigo de seu amigo não olhava a meios para os servir com a devoção dos apóstolos. E foi como apóstolo e discípulo que seguiu e serviu com José de Almeida na grande luta dos tempos heróicos da emancipação açoriana. Aqui deu ânimo e saber aos que nada sabiam de lutas políticas e granjeou ainda mais amizades. Quando foi preciso veio com armas e bagagens e família, e tudo deu sem nada pedir em troca, durante todo o tempo julgado necessário. Regressado à América serviu sempre os Açores, independentemente de quem o governava, pois pôs o interesse da Terra acima das suas convicções políticas, e se as tinha! Ficou bem à Câmara da Lagoa invocar agora a sua alma benfazeja. Felizmente, porém, não foram só os lagoenses que lhe ficaram em dívida. Toda esta Terra chora quando um dos seus bons filhos morre. As lágrimas hão-de adubá-la como as que salgaram o mar que para aqui nos trouxe.
Carlos Melo Bento
2008-01-22
3 comentários:
Dr. Melo Bento,
A notícia da morte do Carlos recebi-a de si. Por ser católico e acreditar que o Universo não pode ter sido criado do nada, a primeira coisa que fiz foi elevar o meu pensamento a quem tudo criou e pedir-Lhe que a alma do Carlos fosse levada para a Sua companhia.
Deus é grande, diz o povo. Creio que só junto Dele o Carlos se sentirá honrado e compensado, depois da grandeza que também soube dar à sua vida, na entrega constante aos outros.
Posso imaginá-lo feliz e sorridente no Além Celestial, como era seu jeito junto dos humanos.
Porém, o simples acto de estar a dirigir aquela prece trouxe-me à realidade. Emocionei-me. Senti-me um pouco perdido por ser um dos nossos que não ia ver mais. Que sentimento estranho!
Porque se há-de perder os amigos, os que nos ajudam a ter esperança, os que nos fazem acreditar nas causas boas!?
Se calhar é para nos fortalecer mais, para nos dizer que a maneira de honrarmos a sua memória é procurar dizer aos outros que vale a pena o ideal que sempre viveu de querer a sua Terra e o seu Povo emancipados.
O Carlos foi para todos um exemplo de independentista que fez o que muitos de nós gostariam de ter conseguido: mostrar com simplicidade, na prática e com os seus actos de generosidade e entrega que afinal aquele ideal nobre tem mais a ver com o amor pelo seu Povo que com a criação de inimigos.
Foi por ele ser assim que a Câmara da Lagoa lhe prestou homenagem e expressou o luto do Concelho.
Foi também por isso que o Dr. Melo Bento declara no seu texto que não é só a Lagoa, mas sim toda a Terra Açoriana que o chora.
Deve ter sido por isso também que o Governo Açoriano enviou uma representação para as cerimónias fúnebres.
Enalteço estas atitudes de reconhecimento e respeito.
O desafio ou sugestão que deixo neste comentário é de que, por quem de direito, em sua memória e pela sua honra, lhe seja confirmada a qualidade de pessoa boa, que era, por isso e além de tudo, independentista.
E a razão pela qual o faço prende-se com o facto do Carlos ter passado, como tantos de nós, pela mágoa de muitos pensarem e afirmarem, por propaganda centralista, que ser-se independentista não era próprio de pessoas boas, mas antes de traidores e de capitalistas que se queriam aproveitar dos outros.
Dr. Melo Bento,
A notícia da morte do Carlos recebi-a de si. Por ser católico e acreditar que o Universo não pode ter sido criado do nada, a primeira coisa que fiz foi elevar o meu pensamento a quem tudo criou e pedir-Lhe que a alma do Carlos fosse levada para a Sua companhia.
Deus é grande, diz o povo. Creio que só junto Dele o Carlos se sentirá honrado e compensado, depois da grandeza que também soube dar à sua vida, na entrega constante aos outros.
Posso imaginá-lo feliz e sorridente no Além Celestial, como era seu jeito junto dos humanos.
Porém, o simples acto de estar a dirigir aquela prece trouxe-me à realidade. Emocionei-me. Senti-me um pouco perdido por ser um dos nossos que não ia ver mais. Que sentimento estranho!
Porque se há-de perder os amigos, os que nos ajudam a ter esperança, os que nos fazem acreditar nas causas boas!?
Se calhar é para nos fortalecer mais, para nos dizer que a maneira de honrarmos a sua memória é procurar dizer aos outros que vale a pena o ideal que sempre viveu de querer a sua Terra e o seu Povo emancipados.
O Carlos foi para todos um exemplo de independentista que fez o que muitos de nós gostariam de ter conseguido: mostrar com simplicidade, na prática e com os seus actos de generosidade e entrega que afinal aquele ideal nobre tem mais a ver com o amor pelo seu Povo que com a criação de inimigos.
Foi por ele ser assim que a Câmara da Lagoa lhe prestou homenagem e expressou o luto do Concelho.
Foi também por isso que o Dr. Melo Bento declara no seu texto que não é só a Lagoa, mas sim toda a Terra Açoriana que o chora.
Deve ter sido por isso também que o Governo Açoriano enviou uma representação para as cerimónias fúnebres.
Enalteço estas atitudes de reconhecimento e respeito.
O desafio ou sugestão que deixo neste comentário é de que, por quem de direito, em sua memória e pela sua honra, lhe seja confirmada a qualidade de pessoa boa, que era, por isso e além de tudo, independentista.
E a razão pela qual o faço prende-se com o facto do Carlos ter passado, como tantos de nós, pela mágoa de muitos pensarem e afirmarem, por propaganda centralista, que ser-se independentista não era próprio de pessoas boas, mas antes de traidores e de capitalistas que se queriam aproveitar dos outros.
Como vês, amigo Joaquim Cabral, não é preciso ir até ao Brasil para se encontrar açorianos. O Carlos foi e tu és prova disso!
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