Cumpre-se este ano o primeiro centenário do nascimento do Padre José Joaquim Rebelo. Professor de Moral e Educação no antigo Liceu Nacional de Ponta Delgada de gerações e gerações de estudantes, ele foi o obreiro das almas e das mentes daqueles que souberam e quiseram perceber as suas saudosas lições. Culto e generoso, o Padre Rebelo foi antes de mais uma pessoa do seu tempo que não quis guardar só para si o estudo constante a que se dedicava das coisas do espírito e doutras mais prosaicas. Nessa medida, não tinha medo nem vergonha de ser sacerdote e católico e de levar o seu ensino às últimas consequências lógicas. Vocação tardia, só muito tarde ingressou no Seminário, abandonando o lugar de tesoureiro da Fábrica de Tabaco Estrela, para obter em Angra do Heroísmo a sua ordenação sacerdotal. Cumpriu com escrúpulo o seu magistério transmitindo aos alunos uma sólida formação intelectual sectorizada, é certo, na perspectiva católica. Mas ao menos essa nós tínhamos que saber, concordando ou não. Hoje, com a preocupação de não tomar partido, acaba por se correr o risco de não se transmitir coisa nenhuma aos estudantes, retirando-lhes uma base de partida, um termo de comparação que conduza a um juízo de valor positivo ou negativo quando atingida a idade adulta. Foi José Joaquim Rebelo um ardente defensor da ordem e da hierarquia, embora o seu espírito crítico alertasse sempre para o perigo da ordem e a hierarquia caírem em mãos erradas, subvertendo os valores e destruindo por dentro o que não conseguiam obter no combate leal. Admirador de Alexis Carrel, tinha n’ ”O Homem, esse Desconhecido”, a pedra do toque das suas mais significativas citações. Podia-se não gostar dele e do seu ensino. Não era fácil era permanecer-lhes indiferente. Publicou um livro “A Eucaristia”, cujo tema só por si não esgota nem o resultado das suas investigações nem o núcleo das suas preocupações. Mas valeu a pena conhecê-lo e tê-lo como professor. Apostado em fazer-nos melhores, ele cultivava a vontade esclarecida como instrumento do progresso humano, que era no fundo a pedra angular da sua lição. Ao cumprirem-se os 100 anos do seu nascimento, ele merecia que os nossos edis lhe dedicassem algo mais que o desleixado esquecimento.
Ponta Delgada, 24 de Junho de 2000.
Carlos Melo Bento
Ponta Delgada, 24 de Junho de 2000.
Carlos Melo Bento
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