Elejo a Associação de Pais e Amigos de Crianças Deficientes do Arquipélago dos Açores para a figura do ano 2004. Nela gostaria de englobar, simbolicamente, todos os que dedicam aos deficientes o seu tempo, o seu saber e a sua alma. Nascido nesta terra há mais de sessenta anos, pude assistir à evolução da forma como lidámos com essa gravíssima e angustiante realidade humana. Desde o abandono total e a chacota que os lançavam na mais deplorável mendicidade e marginalidade, perante uma indiferença que raiava o crime colectivo e dava de nós a falsa imagem dum povo sem conhecimentos e sem piedade. Vi, depois de tomarmos parte do nosso destino nas nossas mãos, surgir a Escola Especial que trouxe luz e dignidade ao sector e às vítimas da glória de Deus. Vi professores e técnicos por essas ruas ensinando invisuais a caminhar sozinhos perante a alegre satisfação dos cidadãos. Não foi sem preocupação que soube da integração dessas crianças nas escolas gerais pois sempre me pareceu e parece que só especialistas podem lidar eficientemente com especiais. Não haverá um meio termo? A Associação de Pais e Amigos, porém, sobreleva a todos, pois concentra em si a tremenda energia dum amor cego e a cruciante dor do que não tem compreensão. Pelas lágrimas sem fim dum destino cruel contra o que alucinadamente lutam sem descanso, tentando roubar tempo ao tempo, merecem bem que nos curvemos respeitosos e agradecidos pela dádiva desse labor insano e da sua estóica e angustiada existência.
2004-12-28
Carlos Melo Bento
2004-12-28
Carlos Melo Bento
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