Entre os inúmeros papeis manuscritos de Sousa de Oliveira que estou tentando pôr em ordem para estudo e publicação sistemática, encontrei esta curiosa nota: “ Como se malograram as escavações arqueológicas na cidade da Ribeira Grande/Meu Projecto: 1) Largo da Ermida de Santo André;/ 2) Terras do Antigo Mosteiro de Jesus; 3) Imediações/ da Igreja Paroquial da Ribeira Seca”, segue-se a sua rubrica.
Não está datado, mas Ribeira Grande já é tratada como cidade e encontro referências a Outubro de 1988 em notas de materiais encontrados no Mosteiro de Jesus onde acabou por fazer escavações científicas e um pedaço do diário de escavações que ele sempre meticulosamente elaborava cujo resto ainda não encontrei.
Não resisto a transcrever .”19 de Setembro de 1988/Bom tempo. Sol Brilhante. Calor e humidade/Entrega de um comunicado da Associação Arqueológica do Arquipélago dos Açores, mencionando a abertura da “Estação Arqueológica das Terras do Mosteiro de Jesus” na cidade da Ribeira Grande./Com alunos do Curso de Iniciação ao estudo das Novas Técnicas Arqueológicas, saí de/ Ponta Delgada, às 10h00, acompanhado pelo Presidente da Câmara Municipal, numa “station” posta à nossa disposição e conduzida pelo próprio Presidente./Fiz a escolha dos utensílios(Picaretas, pás, cestos, sachos, escada) na Repartição de Obras camarárias e dei instruções aos dois trabalhadores que foram destacados hoje para a limpeza do local onde, a partir de amanhã daremos começo à escavação sistemática da zona por mim assinalada no terreno da propriedade pertencente à Misericórdia da Ribeira Grande, a qual fica situada no actual Campo das freiras./Dei indicações ao Dr.Mário Moura, Director da Casa da Cultura da Ribeira Grande,/fiquei a saber que a área do antigo Mosteiro de Jesus se estendia para além da/ área onde ainda se vê a “Roda” no recinto ocupado recentemente por uma /garagem. Na Casa da Cultura da Ribeira Grande (edifício situado na Rua (em branco) está presentemente a fonte e tanques retirados do quintal de uma/ Casa situada no Campo das Freiras./O Sr.José Teixeira Gaipo disse-me que mais ou menos na parte central/da propriedade havia um muro, junto do qual se detectaram ossadas humanas/Na construção degradada (recinto em frente do portão de entrada) decidi mandar abrir uma vala de sondagem, que implicará a quebra de parte/do ci/mento que reveste o chão deste recinto.”
Por este naco de prosa se pode depreender o método e o rigor que Sousa de Oliveira emprestava aos trabalhos que aparecerão em toda a sua extensão quando conseguir publicar a sua obra completa assim me ajudem os deuses deste mundo e do outro.
Reuni em pasta própria todos os manuscritos que encontrei referentes á Ribeira Grande e é deles que vou retirar, em aguarela, um ou outro apontamento para que o leitor possa visualizar a fascinante técnica de trabalho do Mestre.
“Mosteiro de Jesus de Religiosas de Santa Clara, da Regra, e obediência de São Francisco; fundou-o em suas próprias casas Pedro Rodrigues da Câmara com sua mulher D.Maria de Bettencourt no ano de 1545, e depois o aumentou em muito seu filho Henrique Bettencourt e Sá.”
“Propriedade: Convento de Jesus. 222 ares e 64 centiares (vinte e três alqueires de terra com casas altas e baixas, telhadas na frente e uma torre, com suas pertenças, com água dentro e ares e mais encanamentos que a conduzem, livre, sita no Campo das Freiras, da vila da Ribeira grande. Venda feita com toda a pedra existente no mesmo prédio”
Continuarei.
Ponta Delgada 24 de Outubro de 2002
Carlos Melo Bento
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