terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O cargo

2009 foi-nos particularmente penoso no campo dos princípios. O Presidente da República e o Tribunal Constitucional escreveram páginas bem negras no evoluir das nossas instituições fundamentais quer com ciumeiras quer com interpretações restritivas e, cá para a gente anti – democráticas, dos diplomas aprovados unanimemente pelos Representantes do Povo Açoriano. Curiosamente, com argumentos que fazem lembrar os que se opunham à abolição da escravatura. Os escravos não têm direitos porque não existem como pessoas, são coisas. O Povo Açoriano não tem direitos porque não existe. No tempo da outra senhora houve um brincalhão do governo central que, face a uma reivindicação minha, como vereador da Câmara de Ponta Delgada, disse que os açorianos não têm que reivindicar, têm é que gemer. Fora o que então disse a esse meu folclórico colega de faculdade que o 25 de Abril se encarregou de mandar às malgas, as distâncias entre as atitudes anti açorianas que tivemos de suportar de dois órgãos importantes como a presidência e o vigilante da Constituição e a conversa daquele senhor são muito poucas. Por isso, admiro Mário Soares a quem se deveu a maior descentralização de sempre na nossa história (será ele o único português democrata?) e não admiro Cavaco Silva que, apesar dos votos que incrivelmente tem conseguido entre nós (louvado Deus!) só tem tido atitudes hostis para dizer o mínimo que o seu cargo quer respeito e esse não lhe regateamos. Não por ele mas pelo cargo que representa a Nação inteira.
Carlos Melo Bento
2010-01-05

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