terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Atrofismo

Há algo de errado com a nossa televisão. Aquela que foi o veículo primeiro de os açorianos se verem a si próprios como um conjunto homogéneo que vive em várias ilhas perdidas no Atlântico, com os mesmos problemas, com uma história, uma arquitectura, uma cultura, uma maneira de ser fortemente identitárias, essa mesma, encontra-se hoje numa situação tão estranha e deplorável que quase ninguém a vê. O seu responsável máximo veio a público queixar-se de escassez de meios que a atrofiam e impedem de cumprir a missão de, a cada dia, todos os dias e todas as horas, revelar aos açorianos e ao mundo a nossa vida, as nossas qualidades, as nossas necessidades e carências e as nossas abundâncias, está impedida de cumprir a sua sagrada missão por falta de meios. Por isso os açorianos vivem a fantasia de estar noutros lugares, noutros problemas, travando guerras que não são as suas, enquanto se vai degradando a nossa forte personalidade colectiva, entre as brumas de crimes e drogas, sexo e violências que despudoradamente e a horas completamente inaceitáveis entram nas nossas casas, violando famílias e costumes, destruindo lares e princípios e transformando-nos na massa inerte e sem personalidade dos que toleram a devassidão convencidos que estão apenas a defender a liberdade quando de facto apenas assistem impávidos e serenos à destruição da civilização que nos permitiu chegar até hoje moralmente vivos e sãos. Tem de haver alguém que consciencialize a necessidade de fazer uso decente desse atrófico.
Carlos Melo Bento
2010-01-26

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