sábado, 16 de janeiro de 2010

Heróis

Vi com espanto e estupefacção as manobras que destemidos marinheiros das Flores fizeram, no meio duma violenta tempestade, ao leme dum frágil insuflável, para descarregarem no Corvo diversos objectos necessários à vida do dia a dia dos mais sacrificados e esquecidos açorianos. Desde bilhas de gás até leite (!) foram desembarcados com o risco da vida de quatro Homens da fibra dos que descobriram e povoaram o nosso Arquipélago. Arrepia o filme que dessas cenas corre na net e observar aquela minúscula casca de noz subir e descer montanhas de mar, ir e voltar e só acabar quando praticamente estava a tarefa concluída. Depois de sobreviverem ao quase impossível, com o bote empinado em assombrosa vertical, em vez de se recolherem ao barco maior que os esperava ao largo, teimosamente se dirigiram de novo ao cais, correndo o mesmo risco e maior, até se convencerem de que podiam pôr-se a salvo, depois da missão cumprida. Arrepia e emociona até às lágrimas de orgulho, ver aquelas quatro criaturas, hirtas, firmes e calmas, no meio do perigo mortal, manobrando como se o mar estivesse chão como um lago de leite. Não há um queixume ou gesto de desespero uma hesitação. Há uma coragem desmedida, uma determinação inabalável, um sentido de serviço, uma consciência total e perigosa do dever a cumprir. Honra-me poder inscrever os seus nomes nesta coluna: Maro Lopes, Arlindo Oliveira, Edmundo Silva e Énio Lopes. Por eles, o Corvo merece abastecimento atempado e um porto decente. Já!
Carlos Melo Bento
2010-01-12

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