terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Dez mais de 2010, segunda parte


Vejamos agora no campo da ciência quem se destacou este ano. Muitos são os ecos que nos chegaram da excelência do trabalho efectuado no Departamento de Oceanografia e Pescas da nossa Universidade, pólo da Horta que Frederico Machado ajudou a fundar. E, de facto, o seu mais alto responsável, Ricardo Serrão dos Santos, em razão do trabalho desse departamento universitário que dirige, foi convidado para integrar o prestigiado Conselho Científico do Instituto Oceanográfico de Paris juntamente com os outros nove cientistas europeus que o compõem. Justa consagração para quem elevou bem alto o nome dos Açores em terreno de tanta complexidade e debate. Na pessoa de Serrão dos Santos (lembrando os seus notáveis colaboradores), é justo colocar o título de cientista do ano. Como contista sublime, escolho Daniel de Sá, cuja escrita atingiu a perfeição da simplicidade (o seu último conto de Natal é uma obra prima), a beleza dum estilo inimitável e a medida universal do açorianismo, esse sim, património da Humanidade. Para político do ano, a escolha não é fácil porque Carlos César apenas cumpriu, corajosamente é certo, mas o que era a obrigação do seu alto cargo. Sérgio Ávila, porém, ergueu-se, sem descurar a sua postura como terceirense, a um patamar de mentor do ritmo seguro da política açoriana, que fundamentou (sempre que teve de falar no Parlamento) com lógica e equilíbrio, uma opção divergente porque indispensável à defesa dos nossos legítimos interesses colectivos. É para ele, portanto, a palma de melhor político de 2010. O acontecimento do ano não pode deixar de ser a deliberação dos grupos parlamentares do PS, CDS/PP, BE (cuja líder continua a marcar pontos) e do PCP, pela confirmação (não obstante as pressões políticas em contrário) do vetado Orçamento de 2011. Bom Ano.
Carlos Melo Bento
2010-12-28

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Dez mais de 2010

Há sempre entre nós pessoas que se distinguem de forma a deverem ser apontados como exemplo a seguir, se quisermos melhorar o nosso viver. Vislumbrá-los entre o dilúvio de críticas que todos os anos chovem contra nós, não é fácil mas não é impossível. O melhor jornalista de opinião, de belo estilo, contundência, coragem e verdade no amor à Terra dos nossos pais foi sem dúvida Jorge do Nascimento Cabral cuja morte em plena idade da sabedoria ainda o elevou mais pelo tremendo vazio que deixou. Dos artistas, saliento o fotógrafo José António Rodrigues por trabalhos como as Sete Maravilhas, de Almeida Mello e Dos Vulcões dos Açores, de Victor Hugo Forjaz e Zilda França. Empresário apontaremos os Euromotas como exemplo de dinamismo e profissionalismo, traduzido num grande investimento na Ribeira Grande em plena época de recessão, exemplo de coragem e confiança no futuro de todos nós. O livro mais belo que se publicou este ano foi o Minha Ilha, Minha Casa, do florentino Alfredo Luís 1902-1977, (traduzido do inglês Home is an Island, publicado na América, em 1951, como Alfred Lewis), grito de alma dum açoriano genial, forjado na Ilha das Flores, romancista, contista e dramaturgo. Patrícia Carreiro, Emanuel Botelho e Álamo de Oliveira, também produziram obras de vulto, no romance (aquela) e na poesia (estes) mas fiquei-me pelo Alfredo Luís pois a sua leitura tem muito da violência telúrica que fabrica o nosso espírito, nele acossado pela diáspora açórica. João Ponte continua a ser o autarca que se distingue pelo equilíbrio, isenção e dinamismo e foi ele que em 2010 voltou a merecer a palma. Para desportista do ano proponho o angrense Pedro Bartolomeu que no quadriatlo (natação, cayak, ciclismo e corrida) ficou entre os seis melhores do mundo, praticamente sem apoios oficiais! Dos outros direi para a semana. Bom Natal.
Carlos Melo Bento
2010-12-21

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Água suja

Não sei que sentimento me invadiu quando das declarações de Jorge Miranda, pai biológico da Constituição, sobre a polémica gerada na ajuda à classe média açoriana que o Parlamento decretou. Que ia considerar inconstitucional, era adquirido. Que tivesse a temeridade de o justificar com argumentos jurídicos, parecia impossível. Um professor universitário, em fim de carreira (ele andava na Faculdade um ano ou dois à minha frente e eu já faço este ano o “curioso número”), não vai deixar ir o seu eventual prestígio desaguar no mar dos fanatismos onde tudo é “lixo estruturado”. Enganei-me. Que o princípio da solidariedade e da igualdade tinham sido violados. Pois sim! Então, lá porque um concidadão nosso passa fome, os outros todos têm de ser solidários e passar fome com ele? Que raio de conceito jurídico! Ainda se fosse dar-lhe de comer ainda vai que isso sim é solidariedade. Agora, porque o Jorge Miranda morre de sede no deserto do Sará onde a sua má cabeça o levou sem cantil adequado, eu tenho que morrer de sede aqui, que chove todos os dias como se sabe pela lúcida previsão meteorológica diariamente elaborada de Verão e Inverno. Já a regra da igualdade, aí sua excelência tem toda a razão. É preciso retirar a todos os funcionários da administração central os subsídios que aqui recebem há anos que isso não se faz. Jorge Miranda dixit. E devolver os que receberam desde que concebeu a dita filha biológica (1976!). Ora, valha-me Nossa Senhora, como diz Eduardo de Medeiros quando certo social-democrata lhe manda notas para o Alevá. A igualdade em situações desiguais é coisa diferente de alinhar por baixo. Para que uma rapariga baixa fique na passerelle da altura da mais alta, dá-se-lhe sapatos altos, não se corta os pés à outra. Só que estamos como na fábula do lobo e do cordeiro: se não foste tu foi tua mãe quem sujou a água.
Carlos Melo Bento
2010-12-14

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Firme, Presidente!

O 6 de Junho da esquerda democrática era esperado. É que, estando a esquerda no poder, haveria de chegar o momento em que os interesses dos Açores teriam de conflituar com os do resto do País e, então, os nossos esquerdistas teriam que decidir o que tivesse de ser decidido e os outros haveriam de fazer os escarcéu do costume, com as habituais consequências. Até aqui, a esquerda centralista (!) não admitia que os Açores retirassem aos trabalhadores um cêntimo, pois que os separatistas (nome porque lá fora são conhecidos os açorianos que gostam de administrar isto sem terem de pedir licença) eram uns terratenentes fascistoides que exploravam sem consciência os trabalhadores e os mais desfavorecidos para irem depois dançar e jogar a dinheiro para o clube. A coisa virou, a esquerda subiu ao poder (e bem, diga-se) e eis que os governantes começaram a tomar as medidas que têm que ser tomadas para vivermos um pouco melhor e, apesar do muito que foi feito no social, ainda longe da média nacional. Preocupados com a previsível fuga de cérebros da classe média, chaga que sempre nos atormentou desde que somos gente, os nossos deputados criaram uma compensação para aqueles dessa classe que iriam sofrer com as diminuições salariais tornadas necessárias pela construção de mil milhões de euros em estádios de futebol e outras tolices de novos ricos que por lá se fizeram. Sérgio Ávila arrecadou algumas poupanças e chegou a altura de jogar pelo seguro e manter aqui os que mais falta nos fazem. Ardeu Troia. Que esse dinheiro era deles! Que a solidariedade etc. etc. O dinheiro não é deles, é nosso: 600 milhões das Misericórdias, 1832; 250 milhões da moeda de ouro virada papel, 1898; 50 milhões da moeda fraca em 1931; a Base etc.; o pouco que deram (vindo da Europa) nem dá para o juro. Deixem-nos governar o que é nosso. Aprendam connosco a não fazer asneiras e bico calado.
Carlos Melo Bento
2010-12-07