terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Haja dignidade

Normalmente não exige muita atenção a intrigalhada política continental porque ela nos desvia a atenção dos nossos problemas que, esses sim, precisam que cuidemos deles. Mas, às vezes, não é possível evitá-lo, uma vez que os açorianos não quiseram ser independentes pelo que, agora, há que gerir as dependências o melhor possível, e enquanto for possível. A mais importante delas é a chefia do Estado para cuja eleição nós contámos qualquer coisa como dois por cento se votássemos todos…mas, vota apenas metade. Mesmo assim, os de lá não desprezam essa migalhinha. A partir daqui, vejamos o que está em jogo: o candidato que nos humilhou publicamente cá dentro e lá fora diz que o País não pode aguentar uma crise política em cima duma crise económico financeira. Mas, a verdade é que só se ele vencesse é que a crise política seria inevitável, pois ninguém acredita que Alegre, se ganhar, vá demitir o seu próprio partido do poder. O candidato em causa que não respeitou o nosso Estatuto, votado por unanimidade por todos os representantes do Povo Açoriano, diz que o País não aguenta uma segunda volta eleitoral, mas o que ele quer dizer (e não diz) é que se não ganhar à primeira, já não ganha à segunda contra a esquerda unida. Finalmente, ele acusa os outros da ineficácia financeira do Estado mas esquece-se, apesar de não precisar de reincarnar 2 vezes para ser um pessoa séria, que se estamos na UE há 25 anos, ele ocupou os mais importantes e responsabilizantes cargos do Estado durante 15! Nunca poderá ser absolvido da situação actual, com a agravante de ter herdado parte substancial da pesada herança em ouro que o outro deixou. Agora, ameaça com mais 5 anos de permanência à frente do Estado! Se calhar a culpa da actual crise, na sua cabeça, foi nossa. Por isso, se os açorianos votarem nele, além de cometerem um erro político óbvio, praticam uma indignidade que os nossos antepassados nunca cometeram.
Carlos Melo Bento
18.1.2011

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Ouviram?

Por incrível que pareça a alguns distraídos, a eleição do Chefe de Estado é mais importante do que a eleição do melhor treinador do mundo. Infelizmente, açorianos há que sabem tudo de futebol e nada sobre política. A nossa vida (incluindo o futebol) depende da forma como formos governados. Certo que o presidente da República não governa, mas é tanta a importância do cargo (antes exercido, e por graça de Deus, só por reis e filhos) que um capricho dele muda tudo. Daí que não pode ser indiferente aos açorianos a pessoa que vai exercer o cargo. Corre-nos nas veias o mesmo sangue, descobrimos e povoámos isto e sempre quisemos pertencer ao conjunto colossal que ajudámos a criar, participando na expansão e na construção do Império. Quando este regrediu, parou à nossa porta. Como já não éramos exactamente iguais, conseguimos autonomia. Esta, até ver, vem servindo para aprendermos a governarmo-nos, mesmo contra vontade de alguns que, no seu interesse, não querem que deixemos de contribuir com o que isto rende para o regabofe nacional. Ora, um dos actuais candidatos, não fez cerimónia em humilhar-nos publicamente como Povo cujos representantes votaram por unanimidade certo Estatuto. Mandou parar o País e toca a desancar-nos. No estrangeiro, contra a palavra solene que dera, criticou-nos como se fossemos lixo. Nem respeitou o voto democrático (ah! se isto fosse uma ilha inglesa!), borrifou-se para a vergonha em que nos colocava perante o País e o Mundo, e, olhando apenas para o umbigo, mandou-nos arrumar tudo na mala e calar. Podia ter chamado os responsáveis, pedido que reconsiderássemos, que havia soluções de compromisso, que evitássemos humilhações, como faria alguém de bom senso e bom feitio. Não senhor. Tirem já isso dali e acabou-se! que quem manda sou eu. E quando houver eleições, votem em mim, ouviram?
Carlos Melo Bento
2011-01-11

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Seguidismo e dignidade

Não haverá centralismo se não houver seguidismo. E a contrária também é verdadeira: só haverá centralismo se houver seguidistas. Seguidismo pode definir-se como a atitude mental que se traduz na obediência cega e acrítica às ordens “superiores” e dos “superiores”. É óptimo e assume importância fundamental na disciplina militar, principalmente em tempo de guerra. Em política, a questão é mais complicada porque a política é uma arte difícil. É aparência, é habilidade, é coragem, é resultado. É conseguir paz e harmonia social. É lutar contra o desemprego, contra a fome, contra a insegurança. É obter progresso na educação e na cultura. É formar homens e mulheres dignas desse nome, capazes de defender os valores supremos da sociedade humana: a vida e a natureza que a sustenta e permite. É criar justiça nas relações sociais, económicas, familiares e penais. Homens e Mulheres, entenda-se, não escravos humildes e submissos. O medo de ser livre faz o orgulho de ser escravo. Os açorianos são seres livres, que saíram do reino de Portugal há 500 anos, por aventura ou enfartamento, enfrentaram o Mar tenebroso, descobriram, povoaram e defenderam, praticamente sozinhos, estes penedos alagados e instáveis neste fim do Mundo. Não precisam de ninguém que os ensine a sobreviver aqui nem que lhes dê ordens do alto dos tronos a que se alcandoraram. Precisam apenas que não lhes tirem nada e, se possível, que lhes devolvam o que lhes roubaram todos esses anos. A nós não nos deram pedaços dum País. Nós é que para aqui viemos descobri-lo e construí-lo. A massa de que somos feitos, a cultura que trouxemos, a vontade que nos sustenta são idênticos às da nossa origem? Sim mas tão autónoma como a matriz de que saímos por vontade própria. Quem nos não trata com dignidade e respeito não deve merecer o nosso apoio. Senão, todo o nosso sofrimento foi em vão.
Carlos Melo Bento
2011-01-04