Em 1974, para quem acreditava em Marcelo Caetano, sábio eminente, inteligência invulgar, professor e mestre respeitado, a revolução era impensável. A guerra do Ultramar com dezenas de milhares de rapazes por cuja segurança rezávamos, um império julgado irrenunciável, implicavam um atraso na restauração da democracia que se esperava do herdeiro de Salazar. Nos anos 50, dizia-se que o afastamento deste conduziria à guerra civil. Marcelo evitou-a e, esperava-se, iria conduzir-nos à democracia. Parece que sobre estimou os salazaristas e não teve azo de afastar Américo Tomás e os radicais de direita. Esse erro levou ao derrube do regime e à restauração da democracia pela força com fuga de cérebros e capitais (para Espanha e Brasil, principalmente), depois dum susto ditatorial comunistóide pelo meio. Mas a democracia foi restaurada e Mário Soares que a realizou empurrando-nos para a Europa com colossais benefícios, transformou-se no campeão do Portugal moderno, rico e progressivo como nunca. Nós, por cá, nunca conseguimos que a democracia atingisse o limite da vontade popular livremente expressa mas, ainda assim, conseguiu-se um ponto de equilíbrio que, se não recuar, certamente nos haverá de conduzir até onde os açorianos quiserem. O facto de poder publicar estas linhas prova porém que esta democracia superou o regime anterior também no campo das liberdades e aí tem de dar-se a mão à palmatória. Os pessimismos são injustificados: regime e Povo têm capacidade de sobreviver. A seu modo.
Carlos Melo Bento
2009-04-27
Carlos Melo Bento
2009-04-27