sábado, 20 de setembro de 2008

Onde?

Um dia destes a Câmara realizou, na Urbanização do Paim, ao Papa-terra, uma interessante cerimónia de descerramento de placas toponímicas de grandiosas praças com nomes da Autonomia Constitucional, da primeira Assembleia e do primeiro Governo autonómicos. Tudo com elegantes colunas com os nomes dos pioneiros dessas instituições. A cerimónia terminou com pompa e circunstância com tribuna, passadeira vermelha e um importante discurso do Pai da Autonomia constitucional, João Bosco da Mota Amaral. Presentes o antigo deputado Carlos Teixeira, os primeiros Secretários das Obras Públicas, João Bernardo Rodrigues e do Trabalho, António Lagarto. Presentes também o antigo Deputado europeu Vasco Garcia e o outrora Secretário do Trabalho Octaviano Mota. Ausentes todos os outros. Ausente a televisão. Ausente a multidão que antigamente acompanhava, subserviente, Mota Amaral por todo o lado. Ausentes tantos que o seguiam pelas estradas políticas que desbravou, tirando-os do anonimato e da penúria. Do governo socialista actual nem vivalma! Dos outros partidos apenas se viu José Ventura do PDA. Como é curta a memória dos homens! E escassa a elegância dos adversários! E inconcebível o desprezo da comunicação social pública e paga por todos que outrora rastejou a seus pés até à náusea. É difícil engolir na nossa terra estas posturas invertebradas sem um grito de revolta. Onde pára a velha cepa açoriana? Há momentos na vida dos Povos que não é a luta política que prevalece mas a unidade que faz a força e a história.

Carlos Melo Bento
2008-09-15

terça-feira, 9 de setembro de 2008

O tempo


O PSD pela voz de José Cabral Bolieiro assumiu uma posição que dignifica os sociais democratas açorianos, relativamente à questão que Cavaco Silva levantou sobre o Estatuto, opondo-se às “opiniões” do antigo presidente do seu partido e defendendo com coragem o voto proferido unanimemente na Assembleia Legislativa. Não é, porém, líquido que essa postura chegue a tempo de influenciar o eleitor nas próximas eleições já que, na política, “o tempo é mais importante do que em gramática”. Por outro lado, Berta Cabral emprestou o nome à lista de deputados por S. Miguel, facto que só pode ser interpretado como simbólico pois a autarca proclamou diversas vezes que tem um compromisso com a cidade que governa com superior competência. É, no entanto, óbvio que, havendo uma crise constitucional ou autonómica, a sua presença na Assembleia (a título excepcional e transitório que fosse) daria segura garantia de estarmos ali representados ao mais alto nível de saber e de inteligência quando e se isso for preciso. Por outro lado, Mota Amaral surpreendeu assumindo uma posição de colagem ao Presidente da República, facto que pode significar divórcio entre as cúpulas laranja açorianas ou o fim dum ciclo. De qualquer modo, é um equívoco que tem de ser esclarecido, pois uma fractura no maior partido de oposição não pode deixar ninguém indiferente. O tempo de eleições tem esta vantagem, leva as pessoas ao limite do campo de manobra e permite clarificar situações ambíguas. Assim o perceba o eleitor atento.
Carlos Melo Bento
2008-09-09

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Caramba!


A declaração do Prof. Cavaco Silva aos portugueses, sobre as normas do Estatuto Açoriano aprovado por unanimidade de todos os representantes dos dois Povos envolvidos, soou a alarme injustificado e inoportuno. Como economista, não foi certamente o Presidente da República portuguesa quem esteve a analisar a referida lei e sim os seus jovens acessores jurídicos que o induziram a pensar que os poderes presidenciais saíam lesados com tal aprovação. Todavia, isso não é correcto. Ter de ouvir, para dissolver os órgãos regionais, mais entidades das que tem de ouvir para dissolver o Parlamento não é diminuição de poderes é respeito pelos dissolvidos e pela autonomia que lhes reconhecem, também por unanimidade. Da mesma maneira que o Presidente não pode dissolver a Assembleia da República por simples capricho, a verdade é que os órgãos regionais também não. E ouvir quem se quer matar, é o mínimo que a civilização ocidental, hoje, e sempre, exige do matador. Ademais, tal parecer não é vinculatório, o que quer dizer que, ainda mesmo que os regionais se opusessem, o Presidente estava no seu direito de o fazer, assumindo as consequências políticas do que fizesse mas isso, já se vê, são os ossos do “duro ofício de reinar”. Então porquê tanto chamatão à volta de coisa nenhuma? Ele lá saberá. A nós, açorianos que infelizmente votaram nele por maioria, caberá apenas um respeitoso: -“ Mas, Senhor, nem sequer ouvir?... Ouvir!?!” Sabe-se que não nos ligam nenhuma mas ao menos ouçam! Caramba.
Carlos Melo Bento
2008-08-05

Olimpicamente

Causou emoção, a delegação de S. Tomé e Príncipe, o pequeno arquipélago filho da expansão portuguesa, no cortejo inaugural dos Jogos Olímpicos chineses. Não sei se os sãotomenses terão alguma medalha mas isso também não é a questão mais importante porque também não ignoramos os diversos esquemas que levam estes e aqueles ao ouro. A questão está em poder ou não competir-se com autonomia própria nesses famosos jogos. A Bermuda, pequena ilha de 70 mil habitantes, tem um Comité Olímpico. Nós temos de nos contentar em saber que o filho do antigo secretário regional, homem do Pico, entra na vela e que a Benfeito, micaelense do Canadá, entra não sei em que modalidade. Parece que somos um povo de empréstimo que é e não é, nem deixa de ser e não ser. O judo tem aqui participantes de luxo. Nos desportos marítimos temos por obrigação gerar campeões. Mas para que serve se, quando representam Portugal são portugueses, quando representam os países da emigração são apenas descendentes de açorianos? Quer dizer, se um açoriano quiser ser gente tem de sair daqui. No desporto ou na ciência (veja-se o Craig Melo no Nobel) ou seja em que for. Não acham isso estranho? Já não será tempo de pensarmos em nós? De sermos nós próprios aqui? Com vetos ou sem vetos, temos que ser açorianos. Não de arribada ou de passagem. Açorianos mesmo. Será que em minha vida ainda verei a delegação açoriana participar orgulhosa no cortejo olímpico? Se perdermos as medalhas não seremos os únicos nem os últimos.
Carlos Melo Bento
2008-08-12

Calotes


Diz-se que um terço dos calotes à banca se deve aos divórcios, solução agora perigosamente em moda para resolver todas as questões conjugais. Comprados a casa e o carro a prestações, tudo se desmorona quando o casal dissolve a sociedade conjugal e…abre falência. A primeira consequência é deixarem de pagar a casa, pois o carro é importante para o engate seguinte. Principalmente para aquele que teve a lucidez de o pôr em seu nome e guardar as chaves na hora da partida. Se o outro “ex” é vingativo, sai providência cautelar e o carro fica a apodrecer até que a “credi” qualquer coisa tome providências que geralmente se resumem a ficarem com a viatura ao preço da chuva enquanto a dívida sobe à razão dos juros. No fim, casa e carro são perdidos e vendidos por preços abaixo da dívida, ficando os “ex” devendo a diferença por muitos e bons anos. Como a culpa apenas pode ser imputada aos desavindos, não parece que o Estado deva intervir e as pessoas é que têm que ver o que fazem e antes de casar ou pensar duas vezes antes de se divorciarem que o casamento não é propriamente um par de sapatos que se põe de lado quando sai de moda. Mais grave porém é a situação que resulta do desemprego de um ou dos dois. Aqui o Estado tem de pensar numa forma qualquer de intervir até que novo emprego apareça, visto ter intervido demais na economia e não possa agora lavar as mãos quando ela dá de si. Uma espécie de abono para casa, no desemprego. A prazo, claro que estas coisas quando são fáceis tendem a eternizar-se.
Carlos Melo Bento
2008-08-19