Ao contrário do resto do país, depois de 1974, nos Açores, houve um consenso no sentido de apoiar-se o capital, quando lá fora corria desenfreadamente o ódio aos “ricos”, com ocupação de casas e terras, saneamentos, fugas para o estrangeiro, auto gestão de empresas, expulsão dos patrões e outras tantas loucuras que destruíram a frágil economia lusa quase até à bancarrota. Aqui, calmamente, um modesto empregado, retira da empresa milhares de contos e vai levá-los ao patrão, exilado em França, sem eira nem beira. Outro faz o mesmo e vai ao Brasil levar o seu a seu dono. Era ilegal mas fez-se porque a moral sobrepõe-se às leis desonestas. Tudo com autorização e protecção dos que então dirigiam a FLA que nunca tiveram vergonha de defender a propriedade mesmo à custa de graves riscos. Hoje, o capital está sólido e não precisa de ajuda, ao contrário, precisa de defender-se apenas de si próprio, contra os excessos que sempre comete quando tem o poder. Por isso, parece bastante óbvio que, quem precisa de protecção, são os trabalhadores, principalmente os menos qualificados. A dignidade da pessoa humana, o direito a emprego seguro, a justo salário ( que os rendimentos mínimos não são, pois cheiram a esmola discricionária), a função social da propriedade, são valores que urge promover a primeiras preocupações. Não vá dizer-se, com razão, que os açorianos são um povo de escravos que enriquece uma parte dele, para a outra lhe obedecer até morrer de fome ou emigrar por necessidade.
Carlos Melo Bento
2008-07-27
Carlos Melo Bento
2008-07-27