terça-feira, 15 de julho de 2008

Entretantos

Alguma coisa está errada nesta nossa democracia que a torna ridícula. Vêm entendendo os seus autores que fazê-la é dar sempre razão aos seus e tirá-la aos alheios. Quer estes a tenham ou não. Uns por inconsciência derivada das suas limitadas faculdades de raciocínio ou por cegueira que a paixão provoca, imortalizada esta na fábula da águia e da coruja. Outros por calculada táctica, na esperança de que o adversário não perceba que está a ser enrolado ou que, ao menos os amigos dele, caiam no engodo e o abandonem, sabido como é que, sem número, não há vitórias. Mas a verdade é que se é sempre possível enganar alguns, algumas vezes, não é porém possível enganar todos, todas as vezes. E o resultado final é que todos perdemos com a falta de lucidez que resulta nos entretantos, ou seja, enquanto o engano perdura e os outros ganham ou, como dizia o antigo, enquanto o pau vai e vem folgam as costas. Não percebem estes pobres que podem de facto folgar enquanto o pau vai e vem, do que não se livram é de levar com ele, quando ele bate. Pelo caminho ficarão reputações e empregos, empresas e justas ilusões mas, no fim, triunfam sempre os que se agarram à razão lógica e não se deixam embalar em cantigas. Quem me dera assistir, em minha vida, ao triunfo duma ideia justa e verdadeira para a nossa Terra, sem que os interesses alheios vençam com a mentira e o engodo. Dar razão ao adversário, quando ele a tem, é o mais nobre dos exercícios intelectuais duma pessoa de bem.
Carlos Melo Bento
2008-07-15

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