terça-feira, 10 de junho de 2008

Poupar

Uma crise completamente imprevista desencadeou um fenómeno estranho e aparentemente especulativo no mercado do petróleo que ameaça criar o caos político nos sistemas que assentam na aparência que dá votos e poder. Em 1973, a convulsão foi de tal ordem que nem o presidente dos Estados Unidos escapou nem o Estado Novo português se conseguiu manter de pé, para falar apenas nos países que nos dizem mais respeito. Não se sabe donde veio nem quando parou, apenas pudemos ver os efeitos. A crise actual é todavia mais complicada porque, entretanto, mercê da Europa, o nosso nível de vida atingiu níveis impensáveis podendo ruir como castelo de cartas. Endividamentos para além do suportável, planos feitos com base em expectativas agora duvidosas, preços de casas que não se vendem, carros luxuosos que nada valem no mercado existente, desemprego incontrolado, falências escondidas mas implacáveis nos seus efeitos, conjugam-se para uma situação de grave recessão que pode levar tudo no caminho. Como sempre, a classe média vai ser a mais sacrificada, já que os pobres nada tendo nada perdem e os ricos nestas alturas geralmente ficam mais ricos. A solução no tempo de Salazar foi o “produzir e poupar” que o aguentou no poder e salvou muita casa. Neste momento, só um misto de prudência e audácia parece conter a solução. Prudência nos gastos e audácia nas iniciativas, uma espécie de “imaginação ao poder” que públicos e privados, de mãos dadas, exerçam com tenacidade e harmonia. Se não, isto acaba mal.
Carlos Melo Bento
2008-06-09

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