segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Espionagens

Não é justo que, partindo de dois ou três processos, no meio de milhões, se condene a justiça como irresponsável desleixada que demora anos na solução duma pedofilia ou violação do segredo de justiça. É injusto para os que têm os processos em dia (tanto quanto possível, pois um juiz devia ter 300 processos por ano e tem mais de 2.000, em média) e para os que guardam diligentemente o segredo que os seus processos encerram como um sacerdote guarda o de confissão. Para perceber o tribunal há que ter em conta dois princípios fundamentais que os juristas aceitam por formação: faça-se justiça nem que acabe o mundo e, se está no processo está no mundo e, se não está lá, não existe. Quer dizer, o juiz faz justiça e o resto não é com ele, mesmo que seja o fim do mundo, e, ele só é obrigado a saber o que está no processo, o resto também não vale. Sabendo disto, certas pessoas manobram os tribunais ao serviço de interesses inconfessáveis, indiferentes ao dano que provocam à imagem da justiça até agora respeitada embora pouco simpática (todos a querem, menos em sua casa, reza o ditado). Os juízes são indiferentes à opinião pública que tem sido apenas a que se publica (e não são a mesma coisa). Bisbilhotar o segredo dum processo e usá-lo contra um governante é espionagem, sim. E atirar a culpa disso para os agentes judiciários é revoltante pois que, não tendo estes interesses políticos, não podem ser vítimas dos que, sem escrúpulos, os usam na sua insensata e egoísta sede de poder à custa seja do que for.
Carlos Melo Bento
30 anos

O Partido Democrático do Atlântico celebrou três décadas de existência. É na história da autonomia e no reino da democracia, o partido fundado por açorianos que mais tempo durou. Pode dizer-se que não teve o êxito do Partido Autonomista de 1895 nem o do Partido Regionalista de 1925. Mas esses não tinham as leis antidemocráticas de hoje que condicionam os partidos com tais espartilhos que ponho em dúvida que Mont’Alverne ou Filomeno da Câmara tivessem sido eleitos hoje, mesmo que os outros partidos se tivessem abstido, como aconteceu com a esquerda em 1895, ou endoidecido como os Democráticos em 1925 com a designação de estranhos à nossa Terra para candidatos. A tudo acresce que antigamente não havia Tribunal Constitucional a aplicar multas completamente iníquas que tudo amedrontam nem as pessoas tão imprudentes como hoje aí estão, fascinadas pela realidade virtual das internets ou da televisão que julgam viver fora destas pobres e isoladas ilhas, quando vivem nelas, correndo riscos como nunca até aqui os açorianos correram, apesar do muito dinheiro que a Europa nos tem dado. Queira Deus que nunca nos falte esse apoio e que os eleitos do Povo exerçam os seus mandatos não para se servirem e às famílias mas para cumprirem o bem comum. Sousa Pedro, Emanuel Chichorro, Clemente de Vasconcelos, Álvaro Lemos, João Gago da Câmara, Luís Neto de Viveiros, Joaquim Cabral e José Ventura foram comigo os rostos visíveis desse desafio de sermos nós mesmos num mar de indiferença. Valeu a pena.
Carlos Melo Bento
2009-11-30