Manicómio
Era uma vez, no século XIX, filho do muito dinheiro que a laranja atraía, o Banco dos Açores. Parece que ele, cansado de viver no Arquipélago, resolveu viajar para o reino (nome que então se dava ao Continente) para se juntar a um amigo chamado Totta, rebatizando-se em Totta e Açores. Os micaelenses, coitados e desesperados com a ausência definitiva do seu banqueiro fundamental, resolveram arranjar outro. Criaram então, com o dinheiro dos ananases que, com tanto trabalho produziram do nada, o Banco Micaelense que, com altos e baixos, passou a revolução de 1974 e caiu nos braços dum senhor muito maluquinho que era então, calcule-se, primeiro-ministro de Portugal, que então foi conhecido por manicómio em autogestão. Esse sujeito resolveu nacionalizar todos os bancos, menos o dele (claro). E o Banco Micaelense foi na enxurrada. Depois, houve um cavaleiro andante que o arrebatou e transformou no Banco Comercial dos Açores ou BCA (não o deixaram ser apenas Banco dos Açores porque isso cheirava a separatismo). Rodaram os anos e, da Madeira, veio então um tal Banif que engoliu o BCA. Depois, em Lisboa, surgiu um Santander Totta que escondeu o Açores e depois também tragou o Banif. Ficámos descalços outra vez. É o destino, dirão alguns e se calhar têm razão, que nos faz juntar dinheiro, criar bancos e depois perdê-los. A verdade porém, é que, nenhuma economia sobrevive sem um banco à sua dimensão. Hoje, só a Caixa Económica de Angra parece poder chamar-se Banco dos Açores. Mas será o suficiente? Melhor, será o que a economia micaelense precisa para poder consolidar-se e crescer? Da maneira como estamos, a verdade é que o Governo Regional derrama mil milhões todos os anos sobre a nossa economia e todos os anos eles se escoam sabe-se lá por onde ou para onde. Não terá chegado a altura de fazermos outro banco?
Dezembro 2016