domingo, 17 de outubro de 2010

Homenagem à Soprano Açoriana Eulália Mendes

Senhora Presidente da Câmara Municipal, Dr.ª Berta Cabral
Senhor Vereador para a Cultura José Andrade
Senhor Secretário-geral da Fundação Sousa d’Oliveira, Dr Almeida Mello

Senhoras e Senhores

Eulália Maria Arruda Arraial Bettencourt Mendes nasceu na Praia da Vitória, a então risonha vila da nortenha da celebrada Ilha Terceira de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Seu pai Manuel Arraial, aqui presente com uma saúde de ferro nas suas quase 99 Primaveras e apaixonado músico micaelense de Vila Franca do Campo, onde foi inesquecível maestro da gloriosa Banda União Progressista, iniciou a filha querida na arte de Euterpe, uma das nove musas filhas de Zeus, o rei dos deuses e de Mnemósine, aquelas mesmas que presidiam às artes liberais.
A jovem Eulália receberia mais tarde aulas de piano da professora Maria Letícia Mourato. A partir daí, o belo canto falou mais alto e, no Conservatório Regional de Angra do Heroísmo, entrou Eulália na Classe de Canto da professora Luísa Alcobia Leal. Em 1990, após vários anos de apurado labor, prestará provas de exame no Curso Superior daquela prestigiada instituição e obtém a elevada classificação de 19 valores na licenciatura.

A sua preparação musical não parou pois vai então trabalhar com as consagradas professoras Helena Pina Manique, Joana Silva, Cristina Castro e Liliana Bizinech ao passo que frequenta a Master Class dirigida pela internacionalmente famosa Ileana Cotrubas.

Os Açores são então o seu palco privilegiado, participando em todas as ilhas em concertos e recitais e, como solista, colabora com vários agrupamentos corais e instrumentais.

Em 1992 realizou, em Lisboa e Porto, os recitais de lançamento do livro do grande mestre da música portuguesa, Lopes Graça. Não foi por acaso que Eulália Mendes foi a escolhida para abrilhantar essas cerimónias com a sua inimitável interpretação da “Lira Açoriana”.

Foi muito aplaudida a sua actuação no concerto integrado nas cerimónias de comemoração do 25º aniversário da geminação de Angra do Heroísmo com Tulare, na Califórnia, em que Eulália Mendes, foi acompanhada pela Orquestra Sinfónica daquele condado americano, em que cantou as “Trovas”, êxito que foi repetido em Visalia, com a mesma orquestra.

Ficou também na história da música açoriana a sua participação nas I Jornadas Musicais sobre Francisco de Lacerda, no 1º. Ciclo do Órgão dos Açores e na série “Concertos no Palácio” na sede do Governo Açoriano em Santana.

A sua carreira atingiu um dos pontos mais altos quando integrou a representação açoriana à EXPO98 realizando, acompanhada pela consagrada pianista açoriana Ana Paula Andrade, no Dia dos Açores, em que realizaram um recital de canto e piano integralmente preenchido com obras de poetas e compositores açorianos.

Como solista, interpretou a “Missa de Santa Cecília” de Charles Gounod, dos “Stabat Mater” de Gioachino Rossini e Giovani Battista Pergolesi, do “Requiem pro defunctis” de Domenico Cimarosa, da “Missa brevis em Sol maior” KV140 de Wolfgang Amadeus Mozart e do “Oratorio de Noël” de Camille Saint-Saëns.

Nos concertos e recitais que efectuou foi acompanhada por Ana Paula Andrade, Antoine Sibertin-Blanc, António Duarte, António Teves, Cristiana Spadaro, Dora Vidack, Duarte Rosa, Galina Bolkovitinova, Gustaaf Van Mannen, Jannen Hoffman, Les Bundy, Lúcio Medeiros, Luís Loura, Margarida Magalhães de Sousa, Maria João Carreira e Svetlana Pascoal.

Actuou ainda, em diferentes projectos musicais, com as Orquestras de Câmara, da Academia Musical da Ilha Terceira, da Câmara Municipal de Ponta Delgada e Horta Camerata, da Orquestra Clássica da Madeira, Tulare County Shymphony e Banda Militar dos Açores e com os Coros Padre Tomás de Borba da Academia Musical da Ilha Terceira, dos Conservatórios de Angra do Heroísmo e Ponta Delgada, Coral de S. José e da Associação Musical Edmundo Machado Oliveira e First Baptista Chorus, da Califórnia.

Por deliberação de 2 de Junho de 1999 a Câmara Municipal da sua cidade natal agraciou-a com a medalha de Valor Cultural e espero bem que não tenha sido a última, pois senhora Presidente, a cidade que escolheu para viver pode bem conceder-lhe o galardão que o seu enorme talento artístico merece.

Depois de, entre 1985 e 1990, exercer funções de animadora pedagógica de Música na Secretaria de Educação e Cultura, leccionou durante 5 anos Expressão Musical no Departamento de Ciências da Educação da Universidade dos Açores.

Tenho por Eulália Mendes a admiração devida à mais maviosa voz açoriana do seu tempo. Mulher encantadora cantou e encantou nas cerimónias religiosas dos casamentos dos meus filhos em 1995, na histórica Igreja de Santo André de Vila Franca do Campo, em 1996 na reconstruída ermida da Mãe de Deus de Ponta Delgada e, em 1999, na Capela Real de S. Pedro desta cidade, e mais tarde no baptizado do meu neto mais velho, meu homónimo, nesta mesma Capela. Já em 2009, quando celebrámos o centenário de meu Pai, Alfredo de Melo Bento, foi a sua voz que se ergueu na Matriz de Vila Franca do Campo, a Igreja dos nossos antepassados (dos dela e dos meus) enchendo as nossas almas da alegria que só o belo canto transmite. A divina voz desta soprano maravilhosa transformou, simples cerimónias religiosas, em momentos altos das nossas vidas em que todos nos sentimos mais perto do criador em momentos cruciais das nossas breves existências.

É certo que os artistas que a acompanharam em tais actuações partilharão naturalmente dos louros alcançados mas a ela se ficou a dever a mais alta expressão musical atingida pelo trabalho dessas harmoniosas equipas.

Ainda se não me apagaram da memória as lágrimas que choramos, aquando da missa de requiem por um colega advogado faialense que desapareceu tragicamente no desastre aéreo de S. Jorge, tal foi o sentimento e a perfeição que a sua voz magoada atingiu em tão triste ocasião. Nunca se tinha ouvido nada assim e temo mesmo que nestas ilhas nunca mais se torne a ouvir coisa tão comovedora.
Por último, queria dizer que a Fundação Sousa d’Oliveira se orgulha de conceder ao soprano Eulália Maria Arruda Arraial Bettencourt Mendes o diploma de membro de honra, da sua classe das artes, cujo diploma gostaria que lhe fosse entregue nesta cerimónia pela senhora Presidente da Câmara já que quis com a sua presença premiar a maior cantora açoriana.
Obrigado a todos.
Carlos Melo Bento
2010-10-15

1 comentário:

Unknown disse...

bom dia! muitos parabéns a d.Eulália e obrigada que não me esqueçeramsvetlana