Quando isto for lido (e se o for...) estaremos em quarta feira de cinzas em que, no prefácio da Primavera, alguém tentou desviar o curso da natureza quiçá para evitar os seus excessos, ali colocando (anualmente) o melhor dos homens a caminho da morte nefanda em execução duma sentença iníqua, produto duma caricatura da Justiça, sempre aproveitada para justificar os crimes dos poderosos. O Carnaval era a folia escondida atrás de máscaras que tapavam a cara dos verdadeiros autores das patifarias mais ou menos divertidas. As cinzas eram o cair das máscaras para a dura realidade do dia a dia. A natureza, porém, foi mais forte e hoje quase ninguém se deixa iludir, caminhando-se atropeladamente para uma vivência sempre alegrada por entre álcoois e drogas, enquanto os templos estão vazios e as cadeias cheias, dos que se deixaram apanhar nas teias dos tabus modernos. Duma forma ou doutra, deverá manter-se este tempo como oportunidade para reflexão periódica dos problemas mas sem máscaras. A autonomia existe ou é máscara? A luta contra o tráfico de droga existe? A democracia funciona honestamente? Os professores ensinam com competência? O governo quer mesmo avaliá-los? Os bancos são geridos por gente séria e competente? As leis estão mesmo bem feitas ou os juízes é que são mandriões? O leitor atento completará a lista certamente infindável das máscaras que poderemos fazer cair neste dia especial em que os mantos diáfanos da fantasia têm obrigação de dar lugar à crua nudez da verdade.
Carlos Melo Bento
2009-02-22
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