domingo, 11 de julho de 2010

Treinadores

Na juventude dirigi o Micaelense Futebol Club, única equipa desportiva a que pertenci desde que me conheço. Tive então a honra de ter como jogador o pai do Pedro Pauleta, atleta tão bom como o filho mas sem as possibilidades internacionais que este conseguiu. Quando o Pedro se tornou famoso quis conhecê-lo e foi na casa daquele que nos encontrámos. Depois das apresentações protocolares do costume, disparei três perguntas que havia preparado. A primeira era saber que língua usavam os árbitros internacionais e como se entendiam. Disse-me que era o inglês e que às vezes percebiam outras não e, neste caso, eles ficavam para ali a falar enquanto os jogadores iam fazer pela vida em campo. A segunda, o que é que os treinadores lhes diziam no intervalo quando recolhiam às cabines. A resposta do nosso mais famoso atleta não se fez esperar. Bom, eles dizem, deves fazer assim e assado, mais pela direita ou pela esquerda, ou mais depressa ou mais devagar consoante os casos. E vocês fazem tudo o que eles dizem? Às vezes, senão não éramos nós que jogávamos, eram eles. Depois indaguei quem era para ele o melhor jogador do mundo. Respondeu-me que era o Figo, porque quando chegava ao fim do jogo estava tão fresco como se acabasse de entrar em campo. A partir dessa conversa nunca mais vi o desporto rei da mesma maneira. Os treinadores são como os maestros ou como os chefes políticos: eles é que têm a batuta, escolhem os colaboradores e decidem da sua continuação no cargo mas quem joga, toca e governa é o jogador, o músico intérprete e o político nomeado. É certo que o bode expiatório do resultado é sempre o treinador entendido nas várias vertentes em que esse nome pode ser usado. Mas o responsável pelo desastre nem sempre é só ele. 
Carlos Melo Bento
2010.7.7


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