terça-feira, 1 de março de 2011

Alma mater

A nossa mais importante instituição é, sem dúvida, a Universidade, privilégio que, gerado no antigo regime, o actual concretizou em toda a plenitude. Com defeitos e virtudes como tudo o que é humano, ela transformou o nosso viver, melhorando-o de sobremaneira, forjando cérebros para a administração pública e privada, rasgando horizontes, abrindo a porta aos que, por razões económicas ou sociais, não podiam ir estudar para fora, emagrecendo o corpo dos que, com capacidade intelectual para se formarem, jaziam revoltados e frustrados na ilha ou na diáspora e para esta foram empurrados por incontáveis necessidades. Tudo mudou em virtude dessa Alma Mater da açorianidade coeva, fortalecendo e robustecendo o pensamento colectivo deste querido Povo. Penso que nem os seus fundadores primeiros, com José Enes por guia, assessorado por Ricardo Ferreira, Carlos Medeiros e tantos outros devotados sacerdotes de Minerva (passe o romantismo) que contra ventos e marés levaram a bom porto a barca do nosso saber, imaginaram o imenso impacto positivo que provoca. Magníficos Reitores temos tido e a eles se vai ficando a dever um labor titânico de robustecer o prestígio sempre crescente dessa casa: além de Enes, Machado Pires, Vasco Garcia e Avelino Menezes. Como termina agora o mandato deste, seria salutar que a escolha do próximo Reitor fosse criteriosa, cautelosa e muito inteligente. Não pode depender apenas de critérios políticos ou de equilíbrios pessoais ou de grupos. Até agora, houve um certo unanimismo na escolha e, embora tudo permita debate, se calhar, vai continuar como até aqui, e não há mal nisso. Oxalá, porém, que se decidam por alguém que, para além de possuir, obviamente, os predicados académicos e intelectuais e culturais que se exigem para tão alto cargo, seja irremediavelmente nosso e sem alternativa de poder ser outra coisa.
Carlos Melo Bento
2011-02-22
Abismo
Um engenheiro agrónomo de meia-idade, com a jovem neta ao colo, mata a sangue frio e a tiro de pistola, o pai da menina, advogado, seu genro. A mãe da criança é uma Juíza. Trata-se dum crime passional, entre gente da alta sociedade cultural do País, pelo que, como pode ver-se, as paixões, o amor e o ódio, não escolhem nem classes, nem idades. Tudo começa quando se elevou o divórcio ao altar das soluções corriqueiras para os grandes problemas humanos. A vida passou a ser um incidente de nenhuma importância perante os interesses materiais imediatos. Os vínculos naturais passaram a ser tratados pela lei como acidentes de percurso. A filiação natural pode ser substituída pela adopção, a gravidez inoportuna pode ser resolvida com o aborto, as questões conjugais podem ser suprimidas pelo divórcio que passou a ser mais fácil que o próprio casamento. Esqueceram-se estes crânios que a natureza das coisas não pode ser alterada por decreto e o instinto é algo de insondável que não sei se a própria natureza pode alterar, muito menos o homem. Como advogado, tenho chamado insistentemente a atenção para os dramas que esta bandalheira moral está a causar numa sociedade em que só a Igreja (honra lhe seja) tem defendido, durante séculos e sem tergiversar, a lei natural e a vida. Fora da vida e da sua transmissão nada mais é tão sagrado. Entre o estado social e a vida, esta é a escolha necessária e única. O namoro (que prepara a dita transmissão da vida) é das actividades humanas da maior importância e é normalmente enfrentado com frivolidade e tratado levianamente como brincadeira, por uma geração que julga que sabe tudo! Os nossos legisladores têm de parar para pensar já que os eleitores não param nem pensam. Por este caminho, isto não vai acabar bem. Vai morrer mais gente sem querer e vai nascer menos por banalizarmos o viver.
Carlos Melo Bento
2011-03-01

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