terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Camões falido

Causou estranheza o anúncio não desmentido ainda, do colapso científico e técnico (se é que é legítimo separar estas duas vertentes) e financeiro do projecto geotérmico da Terceira. A energia geotérmica é um privilégio de terras como a nossa, contrabalançado pelas catástrofes que o vulcanismo segrega. O projecto micaelense passou por diversas fases, algumas delas impostas pela natureza experimental da indústria que então dava os primeiros passos mesmo a nível mundial, a despeito de já ter anos de experiências nem sempre felizes. Tivemos então ocasião de ganhar conhecimentos preciosos que permitiram, depois dos balanços do costume, obter um sucesso muito apreciável que até trouxe a esta ilha ilustres visitantes, nomes sonantes das ciências geológicas de renome mundial e não só. Tudo aconteceu, até um miserável processo crime, que não obstante o desgaste psicológico e físico que provocou nos injustamente visados pela inveja e pela ganância (de quem conseguiu safar-se impune!), a verdade é que conhecimentos sem preço vieram à tona, para satisfação dos incrédulos e pesar dos cínicos. Depois, foi um rosário de tolices duns tontos que iam dando com aquilo tudo em pantanas, não fosse a lucidez de outros (poucos) de engolirem o orgulho e a vaidade e irem buscar a única pessoa com saber para salvar o projecto e os milhões enterrados. Uma vez salvos, porém (e o escorpião nunca deixa de o ser), arejaram-no e o resultado está à vista. É preciso nos convencermos que o segredo é a alma do negócio e que as pessoas superiormente inteligentes nunca ensinam tudo o que sabem, até porque há coisas que não se ensinam. Ou se nasce sabendo ou morre-se sem elas. Isto em qualquer campo: ciência, política, etc. os povos discretos, aproveitam os seus génios enquanto vivos. Camões morreu pedindo esmola como um sem abrigo, em Lisboa, capital do comércio…
Carlos Melo Bento
2011-02-08

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