quarta-feira, 14 de abril de 2010

Parabéns

O Açoriano é o mais antigo jornal da nossa língua, em publicação no mundo, o que dá aos nossos conterrâneos que o fundaram estatuto respeitável, ou não fosse o século XIX, momento alto da nossa existência. Certo que essa ininterrupta publicação se ficou a dever ao trabalho árduo de gerações de responsáveis inesquecíveis. Para não recuarmos muito, gostava de salientar três deles. Ferreira de Almeida, Manuel Ferreira e Gustavo Moura. Almeida foi um resistente que venceu na vida de jornalista porque administrou com sabedoria parco património, trabalhou sem descanso, dia e noite, na linha dos seus antecessores, mantendo um jornal que não envergonha e que, apesar de semanário, teve influência na opinião pública, merecendo homenagens e o respeito dos importantes na ilha, no arquipélago e no país. Manuel Ferreira porém, é o grande mestre do jornalismo açoriano, porque fundou uma escola, criou um género e deixou discípulos. Pode dizer-se que, entre os jornalistas, ele é, o jornalista. Competente, arrebatador, temível e incansável; descobre um tema, aprofunda-o, acha-lhe a solução e não o larga enquanto não o esgota e não converte o leitor e os responsáveis à sua descoberta. Com um estilo único, de sólida formação literária, com uma memória inesgotável, ele empolga o leitor deixando-o sempre sequioso por mais. Quando deixou o jornal, já este era o mais lido e procurado. Moura é seu discípulo; sem a contundência e o estilo do mestre, fez, não obstante, um jornalismo sólido, sistematicamente agarrado à verdade de que se convence, sem que disso o demova nada. Nem a cadeia onde desceu por isso mesmo! Estruturalmente sério, fez um jornal a essa altura e renovou o sucesso do Mestre. O açoriano retomou o primeiro lugar do pódio, onde tinha estado. E aí ficou. Parabéns ao venerando aniversariante e aos que lhe dão vida.
Carlos Melo Bento
2010-04-13
Eleições
Falta muito pouco tempo para escolhermos o candidato à presidência da República que teremos de apoiar. Os cobardes irão abster-se como de costume pois tanto lhes faz ditadura ou democracia, anarquia ou o que for. Quando estão mal, mudam-se para outro lado, visto que quem não tem vergonha todo o mundo é seu. Os que só lêem a Bola e quejandos, vivem no continente e só têm cá a barriga e os pés, vão votar naquele que mandarem votar as televisões, os rádios e os jornais de lá. Quem viver cá de corpo e alma terá muitas dificuldades em escolher. Cavaco Silva é o pior candidato para nós. Nem o nosso Estatuto unanimemente aprovado ele respeitou. Sempre que pôde, fez-nos a vida negra. Aos do seu próprio partido, como foi o caso de Mota Amaral, tirou-lhe o tapete debaixo dos pés empurrando-o do poder. Manuel Alegre, em tempo que não esqueço, tratou-nos abaixo de cão, com uma intolerável sobranceria sem qualquer abertura democrática, recusando debates leais. Nem respeitou a sua própria disciplina partidária, preferindo ver um adversário como Chefe de Estado a deixar o candidato do seu partido vencer. Qualquer deles só anunciam desgraça ou, na melhor das hipóteses, indiferença. O nosso futuro do que depender da presidência não se augura muito bom. Mário Soares, António Guterres, Mota Amaral seriam óptimos candidatos, do nosso ponto de vista. Mas, infelizmente, criou-se uma mentalidade baseada em ficções que vai levar a Belém aquilo de que o País e os Açores menos precisavam agora. Arrogância e prepotência. Um não lê os jornais e raramente se engana; o outro, bom poeta reconheça-se, mas duma teimosia e dum facciosismo intoleráveis. Em ambos, a cultura política é uma miragem, embora se perceba em ambos um sentido de oportunidade aceitáveis. Mas isso só é pouco para o nosso bem.
Carlos Melo Bento
2010-03-30

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