segunda-feira, 13 de junho de 2011

6 de Junho

Faz hoje precisamente 36 anos que um bando de indivíduos armados com metralhadoras me entrou de madrugada em casa, tendo uma delas exibido um papel que me intimava a comparecer no quartel general. Entraram no quarto de cama onde se encontravam deitados minha mulher e meus filhos, então crianças de 4 a 10 anos de idade. Levaram-me numa viatura militar não para o quartel-general mas para um navio faroleiro, repleto de homens armados e tão assustados como eu (que estava desarmado). Em casa, cortaram o telefone para que minha mulher não telefonasse a ninguém a pedir ajuda, enquanto uns tantos irresponsáveis a ameaçavam com uma pistola da casa em frente. O barco carregou 30 pessoas presas da mesma maneira, ilegal e arbitrária, e levaram-nos para a Terceira onde era suposto ficarmos presos políticos no quartel de Angra. Mas como eram mentirosos, levaram-nos para a cadeia civil, de onde tiraram os presos de delito comum e nos enfiaram nas mesmas celas e camas com as sujas roupas dos seus espantados inquilinos que foram não sei para onde. Após um simulacro de interrogatórios e outras palhaçadas, fomos libertados depois de 8, 15 e 30 dias de miserável reclusão que o povo já estava a revoltar-se, principalmente na ilha de S. Miguel. Uma vez fora, deu-se o vice-versa e aqueles que cometeram esse atentado contra a nossa dignidade foram castigados, física e/ou psicologicamente. Já lhes perdoei a afronta (porque Deus assim o quis) mas não a esqueci. Ponto é saber se o povo em cujo seio foi feita esta monstruosidade também já esqueceu as causas deste dislate, porque isto, no social, as mesmas causas provocam sempre os mesmo efeitos. Da nossa reacção contra a violência nasceu esta autonomia, não tudo o que precisávamos mas deu paz mais de 30 anos. Oxalá que os de costume não se esqueçam que este povo parece mole mas só o é até o porem contra a parede.

Carlos Melo Bento

2011-06-07

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