Vivemos num clima que se aproxima do golpe de estado continuado. Dum golpe de estado financeiro-fiscal. Parece que os estrangeiros (que, como se sabe, são todos boas pessoas) olham para Portugal como uma mina, cheia de mineiros pouco espertos, a quem se pode impunemente tirar o ouro sem grandes dificuldades. Levantam-se umas dúvidas, compara-se com a Grécia, assusta-se o pagode e vão daí mais de 7% de juros da dívida pública (ou como se diz agora que perdemos parte da soberania, da dívida soberana). O estado social, criado desde Marcello Caetano, teve impulso com Cavaco Silva, Guterres e Sócrates (estes últimos duma forma mais ambiciosa já que o erário, a Europa, a banca e os mercados o permitiam). Passámos a viver muito acima das nossas posses, principalmente as classes pobres que saltaram para a antiga classe média, com casa, carro, viagens e, em certos casos, com o rendimento mínimo ou lá como isso se chama e porventura com uma piscina, para não falar nos telemóveis (mínimo 2), internet, TVCabo, jogos e o mais que antes os ricos tinham, que o sol quando nasce é para todos. Até a droga passou a fazer parte da dieta dos pobres e, quando o preço dela subiu nos insondáveis mercados onde circula, o estado passou a fornecer metadona não fossem tais cidadãos padecer da respectiva carência. As cadeias encheram-se, o crime contra o património disparou e por aí fora. Tudo corria bem no reino da Dinamarca mas, eis senão quando, um banqueiro americano borrou a pintura por causa dum roubozito que baralhou as contas e pôs a careca à mostra de certa banca nacional sempre seguidista do que de melhor se faz lá fora. Face à tragédia, uniram-se os cérebros do país em busca da salvação em mar revolto? Qual quê! Começaram a brigar como cães. Que os de fora nos ataquem, é de esperar. Que as baratas tontas comecem a disparatar, é que era mais difícil de prever e suportar.
Carlos Melo Bento
2010-11-16
Carlos Melo Bento
2010-11-16
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