terça-feira, 16 de março de 2010

Periquitos

Quando Mota Amaral era presidente dos Açores disse-me, durante uma estival conversa à beira mar, citando alguém, que tudo o que é excessivo é inútil. A princípio liguei pouco à lição mas o tempo veio dar-lhe razão. Tudo o que aprendo com as dores da experiência tento aplicar na prática do dia a dia, pois se os ensinamentos não servirem para a vida, também eles são inúteis. E faço por transmitir aos outros o que apuro como verdade porque só ela liberta. Aproximam-se lutas eleitorais e com elas as discussões e as expressões excessivas contra os potenciais adversários. Já sabemos que o excessivo é inútil senão mesmo contraproducente, isto é, vira-se contra o si. Magoam sem convencerem nem mobilizarem. Os faialenses têm um ditado que é uma lição fabulosa da arte de conviver: nunca digas tanto mal que não possas vir a dizer bem. Nós advogados, apesar de eternos incompreendidos, damos uma lição permanente dessa arte. Discutimos, criticamos, demolimos ou destruímos argumentos jurídicos ou alegações de facto ou julgamentos de direito ou de facto mas isso nunca nos impediu (antes reforçou) o convívio entre nós que a todos espanta e que a alguns deixa perplexos. Mas essa é que é a virtude: discutir, debater para ajudar a descobrir o fundo das questões. Sem excessos que os juízes não toleram nem absurdos que quem decide não acolhe. Na discussão política não há um juiz magistrado mas há o julgador que é a opinião pública que é o mais implacável dos juízes. Tentar controlá-la é estultícia, enganá-la é inútil e ignorá-la é fatal. Possuir um órgão de comunicação social à disposição não significa dominar a opinião pública que tem vida e consciência próprias. Façamos da discussão um meio de progresso não uma via de insulto e de agressão. Porque as atitudes ficam com quem as toma.
Carlos Melo Bento
2010-03-16

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