quinta-feira, 8 de maio de 2008

A Junta

A Junta Governativa que antecedeu o actual regime constitucional autonómico, e que o professor Vítor Forjaz costumava apelidar de “junta recreativa”, talvez sem razão, foi um abcesso antidemocrático cravado no corpo social açoriano, sem que os eleitores destas ilhas fossem tidos ou achados na sua criação ou no seu funcionamento. Nunca quis julgá-la em público porque nunca perdoei ao seu “presidente”, ditador em democracia, o ter-me mandado prender contra as leis, à força das armas, cobardemente invadindo a minha casa de madrugada, com homens armados, diante de minha mulher e de meus filhos então crianças de tenra idade, sabendo-me indefeso. Não julguei a “junta” porque temo não ser isento ao fazê-lo e porque a participação crime que fiz contra Altino Magalhães foi mandada arquivar apesar de ele ser comprovadamente réu de delito comum e essa injustiça ainda hoje me ferir dolorosamente. Como cristão tentei perdoar-lhe intima e repetidamente mas não consegui até agora. Quando quero fazê-lo, vem-me à memória a imagem de meu Pai, quando me foi buscar à Nordela depois de libertado, com lágrimas nos olhos, as únicas que lhe vi em toda a minha vida. Não sei que utilidade teve esse grupo de indivíduos nomeados arbitrariamente por ele para fingirem de governo durante meses em que tentou apagar os seus próprios crimes. Mas certamente que não foram eles quem ergueu esta autonomia. Antes, o que de mau ainda hoje tentamos limpar se lhe deve por inteiro. Mas, se calhar, o injusto sou eu.
Carlos Melo Bento
2008-05-06

Sem comentários: