Não precisava prender ninguém porque era, então, o único que tinha armas e soldados. Prendeu 35 civis desarmados. Podia tê-los chamado ou prendido de dia. Prendeu-os de noite, porque além de desarmados, dormiam. Podia tê-los enclausurado nesta ilha perto das famílias. Desterrou-os para lugar incerto como qualquer raptor vulgar. Podia ter dito para onde os mandava. Preferiu dizer à socapa aos da sua laia para que os recebessem com insultos à chegada do navio. Podia ter deixado os telefones de suas casas ligados para que as mulheres indefesas chamassem a família para as socorrer. Desligou-os. Podia tê-los prendido com dignidade num quartel. Retirou os presos da cadeia e fê-los dormir nas roupas emporcalhadas daqueles. Podia-os ter deixado falar uns com os outros. Preferiu obrigá-los ao silêncio, mandando chamar-lhes “cães”. Podia ter mandado apagar as lâmpadas das celas durante a noite. Teve-as sempre acesas para os atormentar. Podia ter mandado limpar a cadeia. Preferiu deixá-la com lixo para as moscas e o cheiro nauseabundo humilharem os seus prisioneiros. Podia ter autorizado as suas vítimas a falarem com as famílias para as descansar. Preferiu que só o fizessem depois de receberem dinheiro para pagar as chamadas. Podia dizer aos libertados para onde iam. Preferiu que eles descobrissem por si quando chegaram, atormentados, ao destino. Perante toda esta elegância moral só mesmo uma condecoração.
Carlos Melo Bento
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