Certa vez, aqui há muitos anos, disse publicamente ao Bisneto do Rei D. Miguel e herdeiro do trono dos nossos Reis passados que via nele não apenas uma pessoa mas uma instituição capaz de continuar a ser útil ao povo sobre que os seus maiores reinaram a ponto de o tornar, de todos os povos do mundo, no que mais contribuiu para que o planeta ficasse reduzido à sua verdadeira dimensão e nele se divulgassem e desenvolvessem as ciências e as técnicas mais avançadas. Nós açorianos tivemos a ventura de ser uma estação marítima dessa gloriosa expansão por onde passaram durante séculos heróis e santos, guerreiros e comerciantes, trabalhadores e aventureiros e a todos tratámos devotadamente sem um queixume nem descanso tal como os Reis nos mandavam. Partido o império pelos vendavais da história, ficámos espalhados por mil Pátrias diferentes mas para sempre unidos por um passado comum, uma língua única e um elo indestrutível e invisível que nos atrai irremediavelmente uns aos outros. Pedi-lhe então que fosse a face visível desse mistério português que é de todos e não é de nenhum e fora do qual não nos sentimos felizes. É que as autoridades oficiais estão limitadas por tratados e leis e nada podem fazer para nos unir. A D. Duarte, porém, isso é naturalmente admitido em memória duma gesta que os poetas imortalizaram e que o povo miúdo realizou comandado por gigantes de vontade e de fé que não houve montanha a que não subissem ou mar que não vencessem ou tormenta a que não sobrevivessem, cumprindo um destino que é maior que nós mesmos. Porque esse, qualquer que seja a fórmula política vencedora, é também o seu implacável destino.
Carlos Melo Bento
2008-03-11
Carlos Melo Bento
2008-03-11
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