Se fôssemos independentes ou se nos não tivessem proibido os partidos açorianos, estou certo que os nossos eleitores, em vez de se preocuparem com as questões de Lisboa e do seu governo, apenas pensariam nos seus problemas. Isto tem a ver com as eleições ditas nacionais que, para nós, deveriam ser todas menos as autárquicas. Pode parecer de somenos este método de raciocinar mas não o é tanto. O TGV, o aeroporto de Lisboa e outras coisas fundamentais como a falência estatizada do BPN, o disse que não disse deste ou daquele governante de lá é-nos completamente indiferente. Pouco importa que Ricardo Rodrigues pense que o PSD de Passos é bom ou mau, e que Mota Amaral diga de Sócrates o que Maomé disse do toucinho. Importa sim se aquele defendeu zelosamente o que o Povo açoriano precisa que seja defendido, designadamente o que o Governo Açoriano entendeu ser do nosso interesse, ou se Mota Amaral defendeu com independência aqueles que nos criaram condições financeiras para que os Açores sejam bem governados como o são neste momento e possam continuar a sê-lo no futuro (seja por quem for) exigindo a Passos Coelho que, se for eleito, respeite escrupulosamente a Lei das Finanças Regionais (ainda não se ouviu uma palavra da sua boca sobre os Açores), se respeitará o Estatuto, se extinguirá o absurdo e antidemocrático cargo de Representante da República e por aí fora. Chegou a altura de se não votar como nas apostas desportivas: quem acertar no cavalo vencedor ganha senão, não. Votem neste porque ele agora é que vai ganhar em Lisboa, é uma perversão intolerável da boa forma de nos governarmos e que nos pode conduzir a uma tragédia social. Enquanto os Açorianos não decidirem o seu destino político como for do seu interesse exclusivo, a palavra autonomia ou qualquer outra com que a pintem, não passarão duma balela que só enganará os tolos ou os distraído
2011-05-24
Ingratidão
A discussão sobre a presente crise está desfocada. Não por não ter nitidez mas porque não foca o essencial. Contrariamente às acusações que fazem ao governo socialista de Guterres/Sócrates, o estado social em que vivemos não é mau. O que ele peca é por se não autosustentar. Hospitais gratuitos (ou que pouco se paga e a minha geração soube o que isso era que só se tratava quem tinha muito dinheiro ou médico de graça), escolas quanto baste até à Universidade praticamente gratuitas, tribunais com acesso ilimitado (naquele tempo quem tinha uma quarta de terra no seu nome já não era apoiado). Aos idosos vão levar comida a casa duas vezes por dia, lavam-nos e tratam-nos de graça! (antigamente eram internados nos Asilos para morrer quase à míngua). Aos mais carentes (e não só) dão-lhes um subsídio mensal proporcional (antes mendigavam, emigravam ou estavam presos por roubar). Pagam parte do juro das milhares e milhares de casas que se constroem por todo o lado, ao ponto dos jovens casais com mais juízo as comprarem sem ter que arranjar mais fianças que os próprios empregos (naquele tempo para se levantar 5 contos-25 euros - do banco era preciso uma fiança e dois avalistas!) e por aí fora. Contado lá fora, ninguém acredita, nem nos países socialistas europeus. E a nossa Terra que era de fome e emigração tornou-se num paraíso para mais de 5.000 imigrantes estrangeiros! Portanto insisto: o que está mal não é este estado social mas sim a sua sustentabilidade. E quando se gasta mais do que se pode, há que cortar nas despesas, trabalhar em mais dum emprego ou fazer horas extraordinárias. Lamentar o estado da dívida? Não vale a pena, pois, como já escrevi aqui, todos fomos culpados que aceitámos esse dinheiro sem reservas. E os que em oposição criticam a situação não podem ser absolvidos de hipocrisia política. Aceitam a esmola mas batem em quem lha deu porque ficou pobre. Ingratidão?
2011-05-17
À deriva
Preocupemo-nos com o que se está a passar aqui. Como o segredo é a alma do negócio ninguém fala a verdade e todos mentem. Entretanto, a crise alastra como peste medieva porque o factor psicológico impele as pessoas para atitudes que são contrárias aos seus próprios interesses. Pedia-se que o estado social emagrecesse um pouco e parece-me que o que está acontecendo é que as pessoas se confundem com o estado social e não o são. Quando alguém tira o seu dinheiro do banco, quando, sem necessidade, diminui o consumo, já de si escasso, isso fragiliza o banco e o comércio. Quando alguém para economizar compra mais barato onde todos sabemos e deixa de comprar o que aqui se produz porque é mais caro, está a dar um tiro no próprio pé, pois os que cá receberem menos dinheiro menos terão para gastar e por aí adiante. É uma espécie de pescadinha com o rabo na boca. Quando se compra laranjas espanholas porque são mais brilhantes e porque os supermercados estão cheias delas quando as do nosso quintal apodrecem no chão. Há também os que fazem tudo isso para fingir economizar e inglês ver mas que depois vão a cruzeiros de luxo onde ninguém os conhece, divertir-se à grande e à francesa. Acho que nestas coisas da economia (como aliás em tudo o mais) a nossa maior preocupação deve ser não mentirmos a nós próprios. E, com espírito crítico quanto baste, tomarmos as opções mais sensatas no meio desta tempestade financeira que vai deixar vítimas pelo caminho, não hajam dúvidas. Mas o estado tem de emagrecer. 5%? Talvez. Aumentar a receita 5%? Provavelmente. Mas então porque é esse reboliço todo de aumentar a carga três ou quatro vezes mais do que é preciso oficialmente? E reduzir tudo muito mais do que anunciam? Bom, talvez porque aí continuam todos a mentir e a procurar apenas uma coisa: os que estão no poder, mantê-lo. Os que estão na oposição, obtê-lo. Enquanto isso, a barca parece à deriva. Estará?
A prata da casa
O Partido Democrático do Atlântico que ajudei a criar já lá vão mais de trinta anos, concorre às próximas eleições legislativas, por isso, ninguém estranhará que o defenda. É seu cabeça de lista o meu colega Manuel Costa. Depois de uma carreira profissional de 28 anos de serviço como bancário em que ascendeu à gerência da Caixa Geral na sua Ribeira Grande natal, decidiu, aos 50 anos de idade concretizar o sonho de continuar os estudos interrompidos pelo serviço militar. Cinco anos depois, conclui em Lisboa a Licenciatura em Direito com honrosa classificação e regressa aos Açores para exercer advocacia. Este é o homem que o partido açoriano propõe para nos representar no Parlamento de Lisboa. Na actual conjuntura política, os açorianos precisariam duma voz liberta de outras disciplinas partidárias que, tendo algumas vantagens, padecem de inconvenientes nem sempre compatíveis com as nossas aspirações, objectivos e anseios. Se a convergência partidária tem trazido alguma folga financeira, as nuvens no horizonte pressagiam a necessidade de podermos falar fora daquela ou mesmo apesar daquela. Ninguém sabe quem vai ficar em S. Bento depois do 5 de Junho mas, por estes lados, a falta de renovação das listas do PSD, pode levar a alguma deriva imprevisível que só Deus sabe a que destino nos conduzirá. A eventual subida eleitoral do partido de Paulo Portas pode não trazer benefícios directos aos Açores e até pode ser contraproducente se ele continuar na oposição. A História açoriana ensina que, nestas conjunturas, nós nos voltámos para nós próprios, fazendo das tripas coração e do bom senso e coragem as armas mais úteis. Será que desta vez vão querer usar a prata da casa? Se quiserem ela está limpa e a brilhar. Desde há 30 anos, sem descanso, sem rancor e sem mágoa.
2011-05-03Na tempestade
Suponho que a nossa maior preocupação será, agora, o que vai ser dos açorianos, face às actuais reviravoltas políticas. Temos um chefe de governo no auge da experiência política e com vasto relacionamento com o poder central e um governo na mesma situação, pelo que não estamos fragilizados quanto às pessoas. Em relação à crise financeira privada e aí não há autonomia que nos valha, esperaremos pela pancada que será, presumo, igual para todos. Sabida como é a dependência do nosso tecido empresarial da banca, é de supor que será esta a ditar o ritmo, e pela montra, há que rezar muito a Santa Europa para que a trate bem e não nos consuma, livrando-nos dos nossos inimigos, entre os quais não tenho a certeza se o FMI se conta. Talvez que sim. Postas as coisas neste pé, estarão bem os que nada devam (ou pouco) e o mal de muitos é por vezes o bem de outros. Em 1977, Mota Amaral tinha um ano de experiência governativa. Safou-se e bem, apesar da tormenta. Em 83, levava 7 anos de governação… O actual governo é apanhado com muito mais experiência governativa e com eleições regionais só para o ano que vem. Veremos como sairá da tempestade e tudo vai depender do tamanho das ondas, da força dos ventos e da robustez da embarcação que construíram. E nós, os mortais eleitores, como deveríamos comportar-nos? Como são eleições nacionais, certamente que o incauto local irá votar a favor deste e contra aquele ou no eleito do seu coração, dependendo de ser ou racionalista ou crente. Àqueles que não têm fixações obtusas caberá o desempate, de acordo com o interesse colectivo açórico e mais nada. Isto se obviamente não for dado por quem de direito o brado de Pátria em perigo, caso em que teremos de ser todos por um e um por todos. Até às eleições, há que estudar e meditar para tomarmos sozinhos a decisão correcta de levar o barco a bom porto.
Carlos Melo Bento
2011
Sem comentários:
Enviar um comentário