Jurgen Habermas o filósofo alemão autor da chamada “Teoria da acção comunicativa”, que manteve um debate extraordinário com Bento XVI, ainda Cardeal, discutindo a esfera pública, e onde a opinião pública é escalpelizada racionalmente até saber-se alguma coisa sobre a forma como ela própria se estrutura, obriga-nos a meditar numa coisa simples. O que é que o povo quer? Como é que nós sabemos se é isso que o povo quer? Que desvios pode levar a esfera da opinião pública desonestamente conduzida para este ou aquele resultado? Há muitos anos, ao escrever o primeiro volume da minha História dos Açores, proclamei com orgulho (pecado feio) que nós açorianos éramos diferentes e tínhamos capacidade de permanecer diferentes. Vivendo em comunidades pequenas onde todos nos conhecemos (ou temos obrigação de conhecer), parecia-me, restaurada a democracia, que não iríamos ser uma Maria que vai com as outras e teríamos uma palavra diferente a dizer, como em 1580, 1830, 1895, 1925 e por aí adiante. Mal sabia que os outros também conheciam Habermas e, jogando com ele, levaram-nos para onde quiseram perante a estupefacção de alguns (poucos). Os peritos (que se alugam a quem querem) ganham as opiniões gerais através de truques que nada têm a ver com a realidade social. E é vê-los fazerem presidentes ou primeiros-ministros ao sabor de métodos que dominam como treinadores de futebol de alta competição. O povo nunca se engana, dizem sempre os vencedores. Talvez…
Carlos Melo Bento
2009-06-23
Carlos Melo Bento
2009-06-23
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